Tenho uma teoria bizarra de que, ao contrário de anos pares (enfadonhos), os anos ímpares são cheios de contradições, de possibilidades, de coisas acontecendo. Normalmente são aqueles anos que acontecem coisas terríveis e maravilhosas, as vezes só uma delas, as vezes as duas ao mesmo tempo. E bem ou mal, 2017 tentou confirmar minha superstição maluca. A gente vive uma época complicada, muitas crises e desafios para todo o lado, então não tinha como não ser um ano pesado e difícil (talvez essa permanente sensação de crise tenha vindo pra ficar), ainda mais seguindo o terrível 2016…mas sinto também que este ano abriu muitas possibilidades, chances, até caminhos. Trazendo pra música, acho que os artistas viveram intensamente tudo que envolve nossa época durante este ano. Foram muitos álbuns interessantes, das mais variadas temáticas e estilos, com uma riqueza sonora, estética e lírica que merece ser enaltecida. Esta lista segue critérios totalmente pessoais, é basicamente os 20 discos que mais ouvi, que eu mais gostei, que mais mexeram comigo durante este ano. Mas também tentei dar atenção a critérios como inovação, criatividade e impacto. Vamos aos escolhidos:
Menções honrosas
Dirty Projectors – Dirty Projectors
The XX – I See You
Miley Mosley – Uprising
Laura Marling – Semper Femina
The Districts – Popular Manipulations
Susanne Soundfor – Music For People In Trouble
Benjamin Clementine – I Tell A Fly
Rina Sawayama – RINA (EP)
20) St Vincet – MASSEDUCTION
Resenha em: Melhores Discos – Outubro
Por que está entre os melhores: Porque é um disco de rock divertido, criativo e diverso. A esta altura da década, Annie Clark já é conhecida pelo seu Rock eletrônico, pop, experimental em alguns momentos, e pra quem já conhece bem o seu estilo este disco não trouxe nada de muito novo ou intrigante. Ainda assim me agradou bastante, e me sinto até compelido a exaltar uma artista e um trabalho com tantas ideias e energia num gênero cada vez mais apegado a tendências já batidas e ideias já vividas. Annie traz toda esta estética sonora futurista, com muitas levadas de sintetizadores, ritmos bem demarcados, uma produção que explora bem toda a artificialidade e energia destes sons sem perder todo o senso de diversão, sensualidade, descontração que envolve seu estilo. Além disso, fortes melodias de guitarra chamam a atenção também, e momentos mais íntimos e emocionais, como nas maravilhosas Happy Birthday, Johnny e New York. Mais um disco sólido de uma das artistas mais versáteis e criativas do rock deste década, merece destaque.
Ouça: St. Vincent – Los Ageless
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19) Open Mike Eagle – Brick Body Kids Still Daydream
Resenha em: Melhores Discos – Setembro
Porque está entre os melhores: Porque apresenta um hip hop introspectivo, inteligente, detalhado e muito rico na sua narratividade e mensagem. Este é o primeiro disco que eu ouvi do Open Mike Eagle, e ele já é o meu rapper favorito de uma leva de rappers-poetas que tem feito certo barulho no hip hop americano. E não é pra menos, Open Mike é de fato um poeta. O lirismo deste disco é de uma sutileza, um cuidado, e ao mesmo tempo uma penetração muito forte no coração das temáticas que ele aborda aqui, sempre com muito humor, muito duplo sentido e muita inteligência na forma de montar e juntar as palavras nestas narrativas. Gosto muito de como ele explora temáticas como masculinidade, pobreza, saudade, desejos, sem soar mensageiro ou pretensioso demais, mas mesclando muito seu flow, montando punch lines de forma muito criativa, brincando com personagens e com a própria sonoridade que o acompanha, sempre em prol da história e da mensagem que ele quer passar. A sonoridade é um passeio pelo R&B e pelo Jazz, uma atmosfera muito fluída e detalhada para Open Mike & cia brilharem. É um disco que me impactou bastante pelos sentimentos e perspectivas que ele aborda aqui, e que me deixou muito feliz de ver um rapper com tamanho talento e criatividade na hora de montar seus versos e abordar suas temáticas. Discaço.
Ouça: Open Mike Eagle – Brick Body Complex
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18) Jesca Hoop – Memories Are Now
Resenha em: Melhores Discos – Fevereiro
Porque está entre os melhores: Porque apresenta um folk rock de arranjos muito bem construídos, um trabalho vocal muito interessante e melodias boas de ouvir, envolventes. Este disco saiu lá no longínquo mês de fevereiro, e me lembro que foi um destaque pra mim logo de cara, porque realmente soa distinto, soa como um primeiro disco (embora não seja) de uma artista que encontrou sua voz e seu caminho artístico. Jesca segue a cartilha da cantora-compositora de folk rock, mas do seu jeito: com muitas vocalizações, cordas e percussões bem sutis, um certo minimalismo nos arranjos e construção das músicas que traz todo um aspecto orgânico pra essas músicas, a performance é muito viva, diria até visceral. É um disco tão coeso, criativo e imediato que merece mais destaque do que tem ganhado neste ano, uma artista que realmente está experimentando o Folk nesta década.
Ouça: Jesca Hoop – Memories Are Now
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17) Vagabon – Infinite Worlds
Resenha em: Melhores Discos – Fevereiro
Porque está entre os melhores: Porque é um delicioso disco de Indie Rock: doce, suave, e com bastante energia e individualidade. O disco de estréia da cantora-compositora Laetitia Tamko não traz exatamente nada de muito novo para o Rock Alternativo: harmonias bem construídas, refrões pegajosos, letras pessoais e bem fáceis de se identificar, tudo sob uma atmosfera muito leve e envolvente. Na verdade, só estes elementos já seriam suficientes pra eu adorar este disco, mas não é só isso, Laetitia realmente traz uma performance interessante consigo, uma proposta própria. Por exemplo, este som é tão limpo e ao mesmo tempo com tanta nuance em progressões tão simples que logo me chamou a atenção. O balanço baixo-guitarra é trabalhado com muita delicadeza e desenvoltura aqui, acrescentando detalhamento e enriquecendo levadas que por si só também merecem destaque, pela sua fluidez e naturalidade com que congregam a energia da música. É um disco simples, mas as vezes você encontra uma beleza estronda na simplicidade, e eu amo este estilo. Baita estréia.
Ouça: Vagabon – The Embers
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16) Perfume Genius – No Shape
Resenha em: Melhores Discos – Maio
Porque está entre os melhores: Porque é uma bela aventura sonora por toda a riqueza textual que é a sonoridade pop de Mike Hadres. Sua voz esganiçada e devidamente produzida com efeitos microfônicos conduz essas músicas com melodias bem grandiosas, emocionais, divertidas e inquietantes. Gosto muito da produção deste disco, é um som tão contemporâneo, com tanta nuance e detalhe, muitos elementos do Rock e do Synth Pop que congregam pra uma atmosfera bem abstrata, colorida e vibrante por todo este disco. Ainda que em alguns momentos fique um pouco confuso e não tenha sido um disco que ouvi tanto quanto poderia neste ano, é um belo trabalho: divertido e envolvente, prova que tem muita coisa a se explorar ainda no universo pop da música contemporânea, e que há muito espaço para a criatividade ainda.
Ouça: Perfume Genius – Slip Away
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15) Idles – Brutalism
Resenha em: Melhores Discos – Março
Porque está entre os melhores: Ok, agora a coisa começa a ficar séria. A estréia da banda britânica de Punk/Pós-Punk foi um dos grandes momentos do Rock deste ano, sem dúvida. Um disco pesado, enérgico, agressivo sem perder a descontração e o carisma que uma banda de Rock necessariamente tem que ter pra mim. É um som tão seco, tão orgânico, explosivo nos momentos certos e desorientado sem perder nenhum senso de melodia e expressividade. A performance da banda por si só já chama muito a atenção, sua coesão, intensidade e naturalidade fazem tudo soar muito vivo, e a produção encorpa muito bem essas músicas também. A impressão que tive quando este disco saiu é que era uma lufada de ar fresco no rock alternativo, e hoje, vendo a repercussão boa que este disco teve, tenho certeza disso. Não só pela qualidade deles, mas pela atitude, a desenvoltura, a forma como se apresentam e a individualidade de seu som e proposta. Baita disco.
Ouça: Idles – Mother
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14) Casper Skulls – Mercy Works
Resenha em: Melhores Discos – Novembro
Porque está entre os melhores: Outra estréia, outra banda de Rock, outro disco que me deixou muito animado e feliz em ver que ainda há ideias e ainda há jovialidade no Rock atual. Essa banda canadense realmente traz elementos muito interessantes para o seu som: melodias vocais bem construídas e acessíveis (bebendo muito do power pop de bandas como Weezer), guitarras explosivas que conversam entre si, carregadas de muita dinâmica e versatilidade (bebendo de sons clássicos de guitarra – como o classic rock – e experimentações de timbre, como as afinações de Sonic Youth & cia), e num todo construções harmônicas bem articuladas, essas músicas são uma verdadeira viagem sonora. E eles fazem isso com muita individualidade, seja pelas suas influências ou pelo seu próprio estilo, adoro os vocais masculinos e femininos intercalados e o acréscimo pontual de cordas e metais no arranjo, por exemplo. É um disco que cresceu em mim bastante, e hoje eu fico animado de ver o que essa banda pode fazer no futuro, porque eles realmente tem muito talento e muito a experimentar e trazer para o Rock contemporâneo. Baita estréia.
Ouça: Casper Skulls – Lingua Franca
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13) Wahaxatchee – Out In The Storm
Resenha em: Melhores Discos – Julho
Porque está entre os melhores: Um disco que não tem nada de muito novo e inventivo, mas Deus (!) como e bom este indie rock. Tem uma ternura, uma certa leveza muito boa de acompanhar em todas essas músicas. Adoro essas letras, sempre num tom meio espiritual e reflexivo, compõem muito bem essa sonoridade, que particularmente me moveu bastante durante este ano. Isto porque este disco – particularmente sua produção, talvez – formata muito bem um tipo de som que eu gostaria muito de estar apto a fazer um dia: um som simples, direto, com um considerável apelo melódico, mas ainda assim com muito detalhamento, muita densidade e expressividade nos seus pequenos elementos. Muitas dessas músicas são compostas de 2 ou 3 acordes, mas são tudo menos enfadonhas ou superficiais. Teclados, elementos percussivos, um delicado balanço entre guitarras – contra-baixo incrementam este som do jeitinho que eu gosto. Entendo que não é um disco que vai se destacar muito para ouvidos que não estão acostumados com este estilo, mas é o tipo de disco que os fãs de Katie Crutchfield estavam esperando da parte dela, e estamos muito felizes que este disco chegou.
Ouça: Wahaxatchee – Silver
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12) Big K.R.I.T – 4ever Is A Mighty Long Time
Resenha em: Melhores Discos – Outubro
Porque está entre os melhores: Grandioso disco, grandioso demais, dá pra dizer que é o disco que todos estávamos esperando dele, e veio com sobras. Krit já é pra mim o grande nome do Hip Hop sulista contemporâneo, o que não é pouca coisa: ainda que a estética sonora do sul esteja dominando completamente a industria musical/cultural americana, fazia um tempinho que não aprecia um rapper tão talentoso liricamente e ao mesmo tempo tão conectado com as raízes musicais do sul americano. Este disco tem de tudo um pouco: Bangers, declarações de amor, reflexão, melancolia, assertividade, Soul, R&B, Rock (até country), tudo muito bem congregado por arranjos bem limpos e encaixados e os versos performáticos de Krit e cia. Além destas influências, este disco ainda traz toda aquela levada bouncy e vibrante que o trap sulista tão bem desenvolveu na última década. Acho que é um disco que só vai crescer com o tempo, e eu realmente espero que influencie muito outros rappers a seguir este estilo, a buscar de volta estes sons, porque o hip hop sulista realmente tem potencial de ser bem mais interessante do que tem sido nos últimos anos, e Krit mostra muito bem isso neste disco duplo. Talvez ele merecesse até uma posição mais digna, mas é que daqui pra frente são todos personal favorites mesmo, mas fica meu apreço por este disco maravilhoso.
Ouça: Big K.R.I.T. – Get Up 2 Come Down feat CeeLo Green
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11) Brockhampton – Saturation (I/II/III)
Resenha em: Melhores Discos – Junho, Agosto
Porque está entre os melhores: Ba…..BA, esses caras tomaram este ano totalmente de ASSALTO. Já falei bastante deste coletivo de rappers/produtores/cantores, só queria ressaltar aqui como a trilogia lançada por eles este ano – são 3 discos aqui, nesta posição (na dúvida, o melhor é o Saturation II) – exemplifica bem o momento prolífico que vive o hip hop na cultura jovem musical contemporânea. Brockhampton congrega rappers brancos e negros, heterossexuais e LGBT, com estilos tão diversos, tão próprios e ao mesmo com um entrosamento lírico tão coeso que esses discos realmente soam como uma explosão criativa muito rejuvenescedora, inspiradora até. Dá pra se dizer que todos os discos da trilogia seguem o mesmo estilo, bangers atrás de bangers. Mas ainda assim, há tanto para se aproveitar de cada integrante, seja os refrões pegajosos e bem construídos de Kevin Abstract, o lírismo puro de Dom Mclennon ou a versatilidade de Matt Champion e Joba, que cada Saturation é uma boa viagem por distintos aspectos do hip hop contemporâneo, bem demarcados na experiência cultural desta geração. A revelação do ano pra mim, muita coisa boa pela frente pra eles.
Ouça: Brockhampton – BOOGIE
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10) Linn Da Quebrada – Pajubá
Resenha em: Melhores de Outubro
Porque está entre os melhores: Chegamos ao Top 10 e dEUS (!!!) que belo top 10 temos pela frente, começando com esse PETARDO que saiu em terras brasilis nos últimos 12 meses. Um explosão de muito funk, trap, bass, até house. Tem muito do hip hop no flow da Linn, mas num todo acho que este disco explora muito bem aspectos dos mais interessantes do funk brasileiro contemporâneo. Dialogando diretamente com tendências da música eletrônica, este som é realmente bombástico, agressivo, descontraído, muito subversivo na sua forma de articular narratividade e estética sonora. Têm tudo que me atraiu no punk rock, só que em 2017: a vivacidade, a atitude, uma forma “e daí fodac” de encarar a sua própria estranheza e sobretudo um som que não tenta seguir linhagens estabelecidas, explorando os limites e a intensidade de sua própria estética. Acho que nosso funk ainda vai dar o que falar, pessoal.
Ouça: Linn Da Quebrada – Dedo Nocué feat Mulher Pepita
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09) Phoebe Bridgers – Stranger In The Alps
Resenha em: Melhores de Setembro
Porque está entre os melhores: Dum extremo ao outro, a estréia de Phoebe Bridgers é um dos discos mais doces e melancólicos deste ano. É tão suave, tão delicado, tão gostoso de ouvir e ao mesmo tempo tão impactante e emocionalmente carregado, me sinto jovem e velho ao mesmo tempo ouvindo este disco: com uma vida pela frente, com saudades de 5 anos atrás, com vontade e medo dos dilemas do presente e tudo que acomete nosso tempo. Este é um dos pontos da delicadeza destas composições, a forma como elas retratam tão bem este momento da vida, esta melancolia difícil de entender e de captar, mas tão viva na nossa percepção do momento. Amo a voz dela, as melodias, as letras…mas o destaque mesmo é a sonoridade, os arpejos que fazem a base dessas músicas de forma tão sútil e os detalhes de piano e de cordas que fazem o acompanhamento ser tão fluído e rico em texturas. Soa como um primeiro disco, soa como uma artista nova, e eu adoro este tipo de energia, essa inocência e despretensão. Um belíssimo disco, baita estréia.
Ouça: Phoebe Bridgers – Motion Sickness
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08) Lana Del Rey – Lust For Life
Resenha em: Melhores de Julho
Porque está entre os melhores: Acho que todos os discos daqui pra frente neste Top 10 serão discos que falam pelo menos um pouco de nossa época, principalmente de como é viver esta época sendo parte desta geração, sendo jovem. Tem muita nuance nesta temática, muita riqueza a ser explorada, e eu acho que este novo disco da Lana Del Rey é um dos que melhor capta e trabalha tudo isso. Sempre achei a música da Lana muito contemporânea, muito expressiva desta geração: sua performance vocal bem cadenciada, sua estética vintage e seu som bem dreammy e atmosférico parecem captar bem determinada experiência visual e subjetiva compartilhada pelos jovens desta década. De alguma forma, isso me impactou em cheio neste disco dela. Provavelmente porque é seu melhor disco até agora: todos estes elementos conhecidos de sua abordagem são explorados ao máximo aqui, mas com muita delicadeza, versatilidade, diria até mesmo autenticidade. Desde os primeiros versos da primeira faixa (Love, o single do ano pra mim) eu senti que seria um disco carregado de muitas perspectivas e sensações que me atormentavam no momento, e que num todo refletem este 2017 pra mim. Não só pra mim, mas pra minha geração, eu diria. É um belíssimo disco, certamente um dos que mais ouvi esse ano e que continuarei ouvindo por um bom tempo.
Ouça: Lana Del Rey – Love
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07) Run The Jewells – Run The Jewells III
Resenha em: Melhores de Janeiro
Porque está entre os melhores: O presente de Natal que todo fã de hip hop queria receber em 2016 veio, quando o RTJ III foi disponibilizado gratuitamente na internet naquele distante 25 de dezembro. Mais de um ano depois e este disco se mantém tão alto na minha lista, não só na minha, mas eu diria qualquer lista de melhores de hip hop do ano, porque é realmente um discaço. RTJ junta dois talentosos e carismáticos rappers de Atlanta (Killer Mike) e NY (El-P) com uma já consagrada história no hip hop, e de alguma forma eles se encontraram juntos, chegam ao seu terceiro disco nesta década com mais entrosamento do que nunca, chega ser bonito ver a química dos dois. São 14 músicas de puro hip hop, direto ao ponto: bars after bars, muito humor, punch lines, beats bem sintéticas e features que se encaixam perfeitamente na levada do duo. Não tem o que pedir mais a esses dois, acredito que chegaram ao ápice, esse disco entrega o máximo de sua fórmula, e é bom demais.
Ouça: Run The Jewells – Legend Has It
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06) Hurray For The Riff Raff – The Navigator
Resenha em: Melhores de Março
Porque está entre os melhores: Outro discão que não saiu da minha cabeça o ano todo e não vai sair por um bom tempo. Alynda Segarra e cia conseguiram montar um álbum pessoal, corajoso, denso e ao mesmo tempo muito acessível sonicamente, gostoso de ouvir, até mesmo divertido. Eu adoro a forma como essas músicas passeiam por distintas temáticas (algumas delas bem complicadas, como perspectivas de vida mesmo, o futuro, o passado, batalhas pessoais, etc) de forma tão leve, incrementando distintas influências que de alguma forma encorpam muito bem a mesma sonoridade, seja os elementos percussivos da música latina, cordas de pano de fundo, teclados e guitarras mais tradicionais do rock alternativo e do folk. É um disco que tem tudo que eu espero de um bom disco de Rock, é o disco de Rock do ano pra mim. Ta em excelentes mãos este título.
Ouça: Hurray For The Riff Raff – Hungry Ghost
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05) Father John Minsty – Pure Comedy
Resenha em: Melhores de Abril
Porque está entre os melhores: Ahhhhh esse disco é muito, muito importante. Father John é um dos artistas que eu mais gostei de descobrir este ano, amo suas letras e a sonoridade de suas composições, mesclando folk rock e chamber pop. Este disco particularmente tinha a dificílima missão de suceder o I Love You, Honeybear (2015), fantástico disco lançado dois anos atrás. Bom, Josh conseguiu fazer isso com uma pequena estrategia: fazer um disco focado numa determinada temática, e essa temática é a condição humana, a vida que vivemos em 2017, o que nos aguarda, como estamos vivendo. Parece grandioso, maluco, ou simplesmente chato, mas Josh faz isso sem flertar com a “crítica social”, sem soar mensageiro, pelo contrário: ele encara essa temática de peito aberto, com coragem, olhando de frente para a nossa própria forma de vida neste estágio da civilização, e é aterrecedor encarar isso sem se deixar impactar um pouquinho. Questões envolvendo o sentido, a liberdade, o amor, o futuro…tudo vem a tona, tudo é trabalhado com clareza, com ironia, com o humor. Faixas como Birdie e When The God Of Love Returns congregam questões centrais da filosofia com um olhar crítico e irônico sobre nossa forma de vida humana, são minhas favoritas. Pure Comedy é o disco de 2017, o disco desta década, destes últimos 30 anos, talvez dos próximos 50. Um disco que congrega bem as principais questões que nos envolvem, principais perspectivas e até mesmo possibilidades que nos encaram neste momento. É difícil, é bonito, é assustador, mas eu não posso deixar de no fundo ficar muito feliz de ouvir músicas tão bem construídas sobre tudo isso feitas hoje em dia, discaço.
Ouça: Father John Misty – Total Entertainment Forever
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04) Tyler The Creator – Flower Boy
Resenha em: Melhores de Julho
Porque está entre os melhores: Daqui pra frente (os 4 primeiros) qualquer um dos discos poderia ser o primeiro colocado. Eu realmente não imaginei que o novo disco do Tyler The Creator iria ser um destaque tão grande, mas eu amei este disco, toda sua proposta, sua performance, seus detalhes…é um disco belíssimo. Tyler passeia sobre uma série de dilemas, perspectivas, complexos pessoais que particularmente me afetam bastante, como solidão, dúvidas sobre si mesmo e problemas de relacionamentos com as outras pessoas. Parecem temas batidos, mas ele aborda isso com muita coragem e originalidade, seus versos estão mais afiados do que nunca, é antes de tudo um puta disco de rap. A produção também é uma aventura e tanto: o R&B, o Art Pop, a instrumentação ao vivo…tudo muito visual e orgânico. Não há pontos cegos neste disco, tudo flui muito bem, há muito para se aproveitar. É um disco que ainda vai receber destaque por muito tempo, e merece isso. Mais um trabalho que exemplifica o grande momento que vive o hip hop como plataforma de tendências culturais desta geração, e fico feliz de ver como tem riqueza lirica e sonora a ser explorada ainda no gênero..creio que este disco seria meu favorito do ano em muitos dos anos anteriores.
Ouça: Tyler The Creator – Who Dat Boy
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03) Kendrick Lamar – DAMN
Resenha em: Melhores de Abril
Porque está entre os melhores: Não adianta, este é O Cara da música desta década até agora, o maior artista desta geração. Kendrick volta dois anos depois de lançar seu clássico contemporâneo Too Pimp a Butterfly (2015) com um disco mais acessível, com um som mais moderno porém ao mesmo tempo sem perder nem um pouco toda sua complexidade lírica, sua densidade de ideias e modo de formular suas mensagens. Assim, Kendrick consegue neste álbum agradar gregos e troianos: desde os fãs nerds e críticos que amaram toda sua experimentação lírica e sonora em TPAB, até os fãs mais tradicionais que queriam mais bangers e músicas com hooks mais trabalhadas. Me encontro no meio do caminho entre os dois, e talvez por isso tenha amado tanto este disco. Desde influências do trap e do R&B alternativo na produção até suas colaborações melodramáticas com cantoras pop, seus momentos de agressividade e puro rap em algumas bangers e seus momentos de introspecção e intricados jogos de palavras, Kendrick está por toda a parte neste disco. É um grande artista no seu auge, explorando suas potencialidades com muita liberdade, e muito talento. Grande disco mesmo, só não é meu disco do ano porque os dois primeiros colocados me moveram muito.
Ouça: Kendrick Lamar – ELEMENT.
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02) SZA – CNTRL
Resenha em: Melhores de Junho
Porque está entre os melhores: Bah, um disco que eu realmente não canso de ouvir, que mexeu muito comigo durante este ano e que de alguma forma tem todos os elementos que eu estava procurando em um disco neste ano. A estréia de SZA – a primeira e única mulher da Top Dawg Entertainment – veio carregada de expectativas, mas não por mim, eu mal conhecia ela. Bastou a primeira escutada pra muita coisa me chamar a atenção: a produção sútil, jazzy, muito limpa e balanceada, a performance vocal descompromissada e delicada de SZA, experimentando as melodias de forma muito espontânea e emocional. Tudo isso, na verdade, encorpa muito bem um trabalho que me impactou tanto pela sua sinceridade, naturalidade, diria até inocência. SZA passeia por tantas temáticas corriqueiras e pessoais, lidando com perspectivas, dúvidas e dilemas muito constitutivos da experiência de juventude nesta década, nestes últimos anos. Posso estar sendo repetitivo, e certamente esse disco me encantou tanto meio que pelos mesmos motivos que o primeiro colocado, ainda que musicalmente sejam um tanto distintos. Num todo, acho que são dois álbuns que representam e expressam uma estética muito atual, muito viva, seja pelo som, pelas letras, pelas performances. Fico feliz de estar vivendo isso, espero que SZA tenha uma carreira brilhante pela frente como este disco aponta.
Ouça: SZA – The Weekend
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01) Lorde – Melodrama
Resenha em: Melhores de Junho
Porque é o melhor: A Lorde nasceu em 1996, o mesmo ano que eu. Quando ela lançou o Pure Heroine (2013), eu tinha 17 anos. Ainda era um tanto amargurado com todas as tendências estéticas e artísticas que acompanhavam minha geração, me sentia deslocado em tudo e o disco dela seria o último que eu colocaria pra tocar naquele ano. 4 anos depois, acho que bastante coisa aconteceu pra mim e pra ela. Até hoje eu não ouvi o Pure Heroine, mas assim que terminei de ouvir este disco eu não apenas senti uma compaixão tremenda com a minha geração, mas me senti parte dela, parte desta época, deste tempo. Melodrama não é nenhum grande tratado político-cultural sobre nossa década, tampouco move grandes tendências musicais ou apresenta alguma grande inovação. O que encanta nele é justamente ver – e experienciar junto – todo o crescimento de Lorde, a forma como ela aborda e explora detalhes do seu cotidiano e da sua individualidade pelos últimos anos. A produção fantástica de Jack Antonoff colore e destaca ainda mais estas narrativas, com um pop muito gostoso de ouvir, muito contemporâneo. É como ver de muito perto o crescimento de uma grande artista…acho que este disco vai ficar comigo por um bom tempo ainda, é o disco do ano.
Ouça: Lorde – The Louvre
Olhando novamente pra essa lista, acho que posso dizer que 2017 foi um ano muito bom musicalmente. Muitos artistas bons e interessantes, muitos discaços. Espero que os próximos anos mantenham o nível, e que venha 2018!!!!