Melhores Discos – Janeiro 2018

O mês de janeiro normalmente é um pouco difícil pra mim, se me permitem esta palavra. É muito quente, a cidade esvazia, a própria rotina e o estado de normalidade das coisas parece que entra num estado de suspensão, de pausa, que é um pouco perturbador pra mim. Apesar disso, neste ano este mês passou rápido, e aconteceu bastante coisa. Musicalmente, não foram muitos lançamentos (pelo menos não os que eu acompanhei heheh) mas tiveram coisas boas ainda. São elas:

Jeff Rosenstock – POST

Disco surpresa do primeiro dia do ano, Jeff é um cantor-compositor norte-americano de pop punk/rock alternativo, e ele tem causado certo barulho nos últimos anos com uma jeff-rosenstock-post-artworkbela sequência de discos, apresentando um punk rock muito rico, denso sonicamente, letras poderosas e muita energia. Desta sequência, dá pra dizer que este disco é o mais fraco, mas ainda assim é bom. POST parece voltar um pouco as temáticas mais pessoais e existênciasi que Jeff explorou muito no seu disco de 2015, o We Cool?!. Questões que envolvem relacionamentos, expectativas sociais, envelhecimento, propósito na vida…enfim, todas essas coisas difíceis e complicadas mas que volta e meia atravessam a nossa subjetividade de forma difícil de aguentar são temas que Jeff costuma explorar nas suas músicas, e neste disco elas aparecem bastante. Só por isso, pra mim, o disco já vale a pena, ainda que soe confuso e não tenha muita coesão no desenvolvimento das músicas, soa como uma coleção de músicas aleatoriamente colocadas juntas. A produção também não me agradou muito, o som está mais cru e direto, as guitarras soam mais altas, perdeu um pouco da nuance harmônica e melódica que ele apresentou com maestria em trabalhos anteriores. Ainda assim, há alguns bangers e dá pra cantar junto e aproveitar muitas músicas, vale a pena dar uma chance pra ele.

Ouça: Jeff Rosenstock – USA

Typhoon – Offerings

Eu não conhecia esta banda americana antes da saída deste disco, mas acontece que eles estão na ativa desde o início dos anos 2000, e este já é seu 4º disco de estúdio. Offerings é typhoonofferingsum disco conceitual, ou pelo menos parece ser. Assim como alguns outros ditos álbuns “conceituais”, este trabalho não apresenta necessariamente uma história que vai se desenvolvendo minuciosamente, mas sim um personagem específico cujo qual as músicas exploram as turbulências de sua vida interior, das suas perspectivas, conflitos e dilemas subjetivos. Desta forma, tem toda uma levada bem abstrata e poética nessas letras, que num geral tratam de questões que envolvem as memórias, o passado e aquilo que monta a nossa identidade, nosso sentido de eu. Isso é suficiente pra manter o disco interessante, porque é uma temática explorada de forma bem nuançada pela banda, as letras realmente mergulham no universo interior dos personagens e torna a experiência de ouvir essas músicas algo bem imagético, bem vivo. Sonicamente também é interessante, a banda apresenta um rock orquestral bem grandioso e deslumbrante, bebendo muito de bandas como Arcade Fire (<3) e Beirut. É verdade que as vezes tudo soa muito polido e que as letras se tornam muito confusas, mas pelos momentos de beleza este disco vale a pena.

Ouça: Typhoon – Empiricist

Sylvan Lacue – Apologies in Advance

Agora este SIM é um discaço. O primeiro disco do rapper Sylvan Lacue apresenta um conceito simplesmente genial: o disco inteiro é como se fosse um longo encontro entre sylvanlacuejovens discutindo questões acerca de suas vidas pessoais, suas dificuldades e desafios pro futuro, é como um alcoólicos anônimos sobre crescimento pessoal, basicamente. E assim, cada música é antecipada por um breve skit que apresenta a temática em questão, envolvendo a próxima música. Além de tocar em temas bem interessantes da vida pessoal de qualquer pessoa jovem, o formato de conversa faz tudo se tornar mais detalhado, diverso e complexo. Esta atmosfera percorre as músicas, com uma produção que explora muitas levadas e harmonias do R&b e do Jazz, seja nos pianos ou no contra-baixo. Gosto também de como Sylvan parece conseguir beber de influencias bem diversas que estão em foco neste momento do rap, indo deste o gospel e R&B de artistas da cena de Chicago como Chance The Rapper e Noname, passando pela poesia e spoken word de artistas como Milo e chegando até o flow consagrado do trap de Migos e Future. Tudo isso tem uma pitada aqui, o que deixa tudo mais interessante. Ainda soa um pouco cru e cansativo as vezes, mas como estréia ele mostrou muito potencial, adorei.

Ouça: Sylvan Lacue – Selfish

St. Beauty – Running To The Sun

O disco que mais não saiu da minha cabeça neste mês, sem dúvida. O EP de estréia da dupla de cantoras de R&B americanas contém 10 músicas, é praticamente um disco, e é stbeautydelicioso de ouvir. Difícil não traçar o paralelo com artistas como Frank Ocean e SZA, vide a sonoridade do duo: batidas bem espaçadas, jazzy acordes bem pontuais, vozes muito bonitas conduzindo as melodias por todos os cantos da música. E tudo isso funciona muito bem neste disco…refrões bem pegajosos, uma dinâmica muito boa entre as duas cantoras – ainda que elas tenham uma voz muito parecida – e uma produção que até arrisca algumas influências diferentes, como o ritmo reggae de Colors. Talvez esta profusão de ideias ainda mostre um grupo experimentando, bem cru, ainda não pronto. Mas o potencial é tremendo, e musicalmente é um trabalho que me agradou bastante, ficarei de olho nos próximos trabalhos.

Ouça: St. Beauty – Not Discuss It

Não foram muitos discos neste mês, mas fico contente de perceber que muitos deles foram de artistas novos, fazendo coisas novas e interessantes, bem contemporâneas. Espero continuar descobrindo e que continuam surgindo artistas assim por todos os cantos. Até o próximo mês!!

Os 20 Melhores Discos de 2017

Tenho uma teoria bizarra de que, ao contrário de anos pares (enfadonhos), os anos ímpares são cheios de contradições, de possibilidades, de coisas acontecendo. Normalmente são aqueles anos que acontecem coisas terríveis e maravilhosas, as vezes só uma delas, as vezes as duas ao mesmo tempo. E bem ou mal, 2017 tentou confirmar minha superstição maluca. A gente vive uma época complicada, muitas crises e desafios para todo o lado, então não tinha como não ser um ano pesado e difícil (talvez essa permanente sensação de crise tenha vindo pra ficar), ainda mais seguindo o terrível 2016…mas sinto também que este ano abriu muitas possibilidades, chances, até caminhos. Trazendo pra música, acho que os artistas viveram intensamente tudo que envolve nossa época durante este ano. Foram muitos álbuns interessantes, das mais variadas temáticas e estilos, com uma riqueza sonora, estética e lírica que merece ser enaltecida. Esta lista segue critérios totalmente pessoais, é basicamente os 20 discos que mais ouvi, que eu mais gostei, que mais mexeram comigo durante este ano. Mas também tentei dar atenção a critérios como inovação, criatividade e impacto. Vamos aos escolhidos:

Menções honrosas

Dirty Projectors – Dirty Projectors
The XX – I See You
Miley Mosley – Uprising
Laura Marling – Semper Femina
The Districts – Popular Manipulations
Susanne Soundfor – Music For People In Trouble
Benjamin Clementine – I Tell A Fly
Rina Sawayama – RINA (EP)

20) St Vincet – MASSEDUCTION

Resenha em: Melhores Discos – Outubro

Por que está entre os melhores: Porque é um disco de rock divertido, criativo e diverso. stvincentmasseductionA esta altura da década, Annie Clark já é conhecida pelo seu Rock eletrônico, pop, experimental em alguns momentos, e pra quem já conhece bem o seu estilo este disco não trouxe nada de muito novo ou intrigante. Ainda assim me agradou bastante, e me sinto até compelido a exaltar uma artista e um trabalho com tantas ideias e energia num gênero cada vez mais apegado a tendências já batidas e ideias já vividas. Annie traz toda esta estética sonora futurista, com muitas levadas de sintetizadores, ritmos bem demarcados, uma produção que explora bem toda a artificialidade e energia destes sons sem perder todo o senso de diversão, sensualidade, descontração que envolve seu estilo. Além disso, fortes melodias de guitarra chamam a atenção também, e momentos mais íntimos e emocionais, como nas maravilhosas Happy Birthday, Johnny e New York. Mais um disco sólido de uma das artistas mais versáteis e criativas do rock deste década, merece destaque.

Ouça: St. Vincent – Los Ageless

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19) Open Mike Eagle – Brick Body Kids Still Daydream

Resenha em: Melhores Discos – Setembro

Porque está entre os melhores: Porque apresenta um hip hop introspectivo, iopenmikeeaglebrickbodykidsnteligente, detalhado e muito rico na sua narratividade e mensagem. Este é o primeiro disco que eu ouvi do Open Mike Eagle, e ele já é o meu rapper favorito de uma leva de rappers-poetas que tem feito certo barulho no hip hop americano. E não é pra menos, Open Mike é de fato um poeta. O lirismo deste disco é de uma sutileza, um cuidado, e ao mesmo tempo uma penetração muito forte no coração das temáticas que ele aborda aqui, sempre com muito humor, muito duplo sentido e muita inteligência na forma de montar e juntar as palavras nestas narrativas. Gosto muito de como ele explora temáticas como masculinidade, pobreza, saudade, desejos, sem soar mensageiro ou pretensioso demais, mas mesclando muito seu flow, montando punch lines de forma muito criativa, brincando com personagens e com a própria sonoridade que o acompanha, sempre em prol da história e da mensagem que ele quer passar. A sonoridade é um passeio pelo R&B e pelo Jazz, uma atmosfera muito fluída e detalhada para Open Mike & cia brilharem. É um disco que me impactou bastante pelos sentimentos e perspectivas que ele aborda aqui, e que me deixou muito feliz de ver um rapper com tamanho talento e criatividade na hora de montar seus versos e abordar suas temáticas. Discaço.

Ouça: Open Mike Eagle – Brick Body Complex

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18) Jesca Hoop – Memories Are Now

Resenha em: Melhores Discos – Fevereiro

Porque está entre os melhores: Porque apresenta um folk rock de arranjos muito bem jescahoopconstruídos, um trabalho vocal muito interessante e melodias boas de ouvir, envolventes. Este disco saiu lá no longínquo mês de fevereiro, e me lembro que foi um destaque pra mim logo de cara, porque realmente soa distinto, soa como um primeiro disco (embora não seja) de uma artista que encontrou sua voz e seu caminho artístico. Jesca segue a cartilha da cantora-compositora de folk rock, mas do seu jeito: com muitas vocalizações, cordas e percussões bem sutis, um certo minimalismo nos arranjos e construção das músicas que traz todo um aspecto orgânico pra essas músicas, a performance é muito viva, diria até visceral. É um disco tão coeso, criativo e imediato que merece mais destaque do que tem ganhado neste ano, uma artista que realmente está experimentando o Folk nesta década.

Ouça: Jesca Hoop – Memories Are Now

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17) Vagabon – Infinite Worlds

Resenha em: Melhores Discos – Fevereiro

Porque está entre os melhores: Porque é um delicioso disco de Indie Rock: doce, suave, vagabone com bastante energia e individualidade. O disco de estréia da cantora-compositora Laetitia Tamko não traz exatamente nada de muito novo para o Rock Alternativo: harmonias bem construídas, refrões pegajosos, letras pessoais e bem fáceis de se identificar, tudo sob uma atmosfera muito leve e envolvente. Na verdade, só estes elementos já seriam suficientes pra eu adorar este disco, mas não é só isso, Laetitia realmente traz uma performance interessante consigo, uma proposta própria. Por exemplo, este som é tão limpo e ao mesmo tempo com tanta nuance em progressões tão simples que logo me chamou a atenção. O balanço baixo-guitarra é trabalhado com muita delicadeza e desenvoltura aqui, acrescentando detalhamento e enriquecendo levadas que por si só também merecem destaque, pela sua fluidez e naturalidade com que congregam a energia da música. É um disco simples, mas as vezes você encontra uma beleza estronda na simplicidade, e eu amo este estilo. Baita estréia.

Ouça: Vagabon – The Embers

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16) Perfume Genius – No Shape

Resenha em: Melhores Discos – Maio

Porque está entre os melhores: Porque é uma bela aventura sonora por toda a riqueza perfumegeniustextual que é a sonoridade pop de Mike Hadres. Sua voz esganiçada e devidamente produzida com efeitos microfônicos conduz essas músicas com melodias bem grandiosas, emocionais, divertidas e inquietantes. Gosto muito da produção deste disco, é um som tão contemporâneo, com tanta nuance e detalhe, muitos elementos do Rock e do Synth Pop que congregam pra uma atmosfera bem abstrata, colorida e vibrante por todo este disco. Ainda que em alguns momentos fique um pouco confuso e não tenha sido um disco que ouvi tanto quanto poderia neste ano, é um belo trabalho: divertido e envolvente, prova que tem muita coisa a se explorar ainda no universo pop da música contemporânea, e que há muito espaço para a criatividade ainda.

Ouça: Perfume Genius – Slip Away

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15) Idles – Brutalism

Resenha em: Melhores Discos – Março

Porque está entre os melhores: Ok, agora a coisa começa a ficar séria. A estréia da idlesbanda britânica de Punk/Pós-Punk foi um dos grandes momentos do Rock deste ano, sem dúvida. Um disco pesado, enérgico, agressivo sem perder a descontração e o carisma que uma banda de Rock necessariamente tem que ter pra mim. É um som tão seco, tão orgânico, explosivo nos momentos certos e desorientado sem perder nenhum senso de melodia e expressividade. A performance da banda por si só já chama muito a atenção, sua coesão, intensidade e naturalidade fazem tudo soar muito vivo, e a produção encorpa muito bem essas músicas também. A impressão que tive quando este disco saiu é que era uma lufada de ar fresco no rock alternativo, e hoje, vendo a repercussão boa que este disco teve, tenho certeza disso. Não só pela qualidade deles, mas pela atitude, a desenvoltura, a forma como se apresentam e a individualidade de seu som e proposta. Baita disco.

Ouça: Idles – Mother

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14) Casper Skulls – Mercy Works

Resenha em: Melhores Discos – Novembro

Porque está entre os melhores: Outra estréia, outra banda de Rock, outro disco que me CasperMercydeixou muito animado e feliz em ver que ainda há ideias e ainda há jovialidade no Rock atual. Essa banda canadense realmente traz elementos muito interessantes para o seu som: melodias vocais bem construídas e acessíveis (bebendo muito do power pop de bandas como Weezer), guitarras explosivas que conversam entre si, carregadas de muita dinâmica e versatilidade (bebendo de sons clássicos de guitarra – como o classic rock – e experimentações de timbre, como as afinações de Sonic Youth & cia), e num todo construções harmônicas bem articuladas, essas músicas são uma verdadeira viagem sonora. E eles fazem isso com muita individualidade, seja pelas suas influências ou pelo seu próprio estilo, adoro os vocais masculinos e femininos intercalados e o acréscimo pontual de cordas e metais no arranjo, por exemplo. É um disco que cresceu em mim bastante, e hoje eu fico animado de ver o que essa banda pode fazer no futuro, porque eles realmente tem muito talento e muito a experimentar e trazer para o Rock contemporâneo. Baita estréia.

Ouça: Casper SkullsLingua Franca

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13) Wahaxatchee – Out In The Storm

Resenha em: Melhores Discos – Julho

Porque está entre os melhores: Um disco que não tem nada de muito novo e inventivo, waxahatchee-out-in-the-storm-album-silver-video-katie-crutchfieldmas Deus (!) como e bom este indie rock. Tem uma ternura, uma certa leveza muito boa de acompanhar em todas essas músicas. Adoro essas letras, sempre num tom meio espiritual e reflexivo, compõem muito bem essa sonoridade, que particularmente me moveu bastante durante este ano. Isto porque este disco – particularmente sua produção, talvez – formata muito bem um tipo de som que eu gostaria muito de estar apto a fazer um dia: um som simples, direto, com um considerável apelo melódico, mas ainda assim com muito detalhamento, muita densidade e expressividade nos seus pequenos elementos. Muitas dessas músicas são compostas de 2 ou 3 acordes, mas são tudo menos enfadonhas ou superficiais. Teclados, elementos percussivos, um delicado balanço entre guitarras – contra-baixo incrementam este som do jeitinho que eu gosto. Entendo que não é um disco que vai se destacar muito para ouvidos que não estão acostumados com este estilo, mas é o tipo de disco que os fãs de Katie Crutchfield estavam esperando da parte dela, e estamos muito felizes que este disco chegou.

Ouça: Wahaxatchee – Silver

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12) Big K.R.I.T – 4ever Is A Mighty Long Time

Resenha em: Melhores Discos – Outubro

Porque está entre os melhores: Grandioso disco, grandioso demais, dá pra dizer que é o bigkritdisco que todos estávamos esperando dele, e veio com sobras. Krit já é pra mim o grande nome do Hip Hop sulista contemporâneo, o que não é pouca coisa: ainda que a estética sonora do sul esteja dominando completamente a industria musical/cultural americana, fazia um tempinho que não aprecia um rapper tão talentoso liricamente e ao mesmo tempo tão conectado com as raízes musicais do sul americano. Este disco tem de tudo um pouco: Bangers, declarações de amor, reflexão, melancolia, assertividade, Soul, R&B, Rock (até country), tudo muito bem congregado por arranjos bem limpos e encaixados e os versos performáticos de Krit e cia. Além destas influências, este disco ainda traz toda aquela levada bouncy e vibrante que o trap sulista tão bem desenvolveu na última década. Acho que é um disco que só vai crescer com o tempo, e eu realmente espero que influencie muito outros rappers a seguir este estilo, a buscar de volta estes sons, porque o hip hop sulista realmente tem potencial de ser bem mais interessante do que tem sido nos últimos anos, e Krit mostra muito bem isso neste disco duplo. Talvez ele merecesse até uma posição mais digna, mas é que daqui pra frente são todos personal favorites mesmo, mas fica meu apreço por este disco maravilhoso.

Ouça: Big K.R.I.T. – Get Up 2 Come Down feat CeeLo Green

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11) Brockhampton – Saturation (I/II/III)

Resenha em: Melhores Discos – JunhoAgosto

Porque está entre os melhores: Ba…..BA, esses caras tomaram este ano totalmente de saturation2ASSALTO. Já falei bastante deste coletivo de rappers/produtores/cantores, só queria ressaltar aqui como a trilogia lançada por eles este ano – são 3 discos aqui, nesta posição (na dúvida, o melhor é o Saturation II) – exemplifica bem o momento prolífico que vive o hip hop na cultura jovem musical contemporânea. Brockhampton congrega rappers brancos e negros, heterossexuais e LGBT, com estilos tão diversos, tão próprios e ao mesmo com um entrosamento lírico tão coeso que esses discos realmente soam como uma explosão criativa muito rejuvenescedora, inspiradora até. Dá pra se dizer que todos os discos da trilogia seguem o mesmo estilo, bangers atrás de bangers. Mas ainda assim, há tanto para se aproveitar de cada integrante, seja os refrões pegajosos e bem construídos de Kevin Abstract, o lírismo puro de Dom Mclennon ou a versatilidade de Matt Champion e Joba, que cada Saturation é uma boa viagem por distintos aspectos do hip hop contemporâneo, bem demarcados na experiência cultural desta geração. A revelação do ano pra mim, muita coisa boa pela frente pra eles.

Ouça: Brockhampton – BOOGIE

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10) Linn Da Quebrada – Pajubá

Resenha em: Melhores de Outubro

Porque está entre os melhores: Chegamos ao Top 10 e dEUS (!!!) que belo top 10 temos linndaquebradapela frente, começando com esse PETARDO que saiu em terras brasilis nos últimos 12 meses. Um explosão de muito funk, trap, bass, até house. Tem muito do hip hop no flow da Linn, mas num todo acho que este disco explora muito bem aspectos dos mais interessantes do funk brasileiro contemporâneo. Dialogando diretamente com tendências da música eletrônica, este som é realmente bombástico, agressivo, descontraído, muito subversivo na sua forma de articular narratividade e estética sonora. Têm tudo que me atraiu no punk rock, só que em 2017: a vivacidade, a atitude, uma forma “e daí fodac” de encarar a sua própria estranheza e sobretudo um som que não tenta seguir linhagens estabelecidas, explorando os limites e a intensidade de sua própria estética. Acho que nosso funk ainda vai dar o que falar, pessoal.

Ouça: Linn Da Quebrada – Dedo Nocué feat Mulher Pepita

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09) Phoebe Bridgers – Stranger In The Alps

Resenha em: Melhores de Setembro

Porque está entre os melhores: Dum extremo ao outro, a estréia de Phoebe Bridgers é phoebebridgersstrangerinthealpsum dos discos mais doces e melancólicos deste ano. É tão suave, tão delicado, tão gostoso de ouvir e ao mesmo tempo tão impactante e emocionalmente carregado, me sinto jovem e velho ao mesmo tempo ouvindo este disco: com uma vida pela frente, com saudades de 5 anos atrás, com vontade e medo dos dilemas do presente e tudo que acomete nosso tempo. Este é um dos pontos da delicadeza destas composições, a forma como elas retratam tão bem este momento da vida, esta melancolia difícil de entender e de captar, mas tão viva na nossa percepção do momento. Amo a voz dela, as melodias, as letras…mas o destaque mesmo é a sonoridade, os arpejos que fazem a base dessas músicas de forma tão sútil e os detalhes de piano e de cordas que fazem o acompanhamento ser tão fluído e rico em texturas. Soa como um primeiro disco, soa como uma artista nova, e eu adoro este tipo de energia, essa inocência e despretensão. Um belíssimo disco, baita estréia.

Ouça: Phoebe Bridgers – Motion Sickness

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08) Lana Del Rey – Lust For Life

Resenha em: Melhores de Julho

Porque está entre os melhores: Acho que todos os discos daqui pra frente neste Top 10 lustforlifeserão discos que falam pelo menos um pouco de nossa época, principalmente de como é viver esta época sendo parte desta geração, sendo jovem. Tem muita nuance nesta temática, muita riqueza a ser explorada, e eu acho que este novo disco da Lana Del Rey é um dos que melhor capta e trabalha tudo isso. Sempre achei a música da Lana muito contemporânea, muito expressiva desta geração: sua performance vocal bem cadenciada, sua estética vintage e seu som bem dreammy e atmosférico parecem captar bem determinada experiência visual e subjetiva compartilhada pelos jovens desta década. De alguma forma, isso me impactou em cheio neste disco dela. Provavelmente porque é seu melhor disco até agora: todos estes elementos conhecidos de sua abordagem são explorados ao máximo aqui, mas com muita delicadeza, versatilidade, diria até mesmo autenticidade. Desde os primeiros versos da primeira faixa (Love, o single do ano pra mim) eu senti que seria um disco carregado de muitas perspectivas e sensações que me atormentavam no momento, e que num todo refletem este 2017 pra mim. Não só pra mim, mas pra minha geração, eu diria. É um belíssimo disco, certamente um dos que mais ouvi esse ano e que continuarei ouvindo por um bom tempo.

Ouça: Lana Del Rey – Love

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07) Run The Jewells – Run The Jewells III

Resenha em: Melhores de Janeiro

Porque está entre os melhores: O presente de Natal que todo fã de hip hop queria rtj3receber em 2016 veio, quando o RTJ III foi disponibilizado gratuitamente na internet naquele distante 25 de dezembro. Mais de um ano depois e este disco se mantém tão alto na minha lista, não só na minha, mas eu diria qualquer lista de melhores de hip hop do ano, porque é realmente um discaço. RTJ junta dois talentosos e carismáticos rappers de Atlanta (Killer Mike) e NY (El-P) com uma já consagrada história no hip hop, e de alguma forma eles se encontraram juntos, chegam ao seu terceiro disco nesta década com mais entrosamento do que nunca, chega ser bonito ver a química dos dois. São 14 músicas de puro hip hop, direto ao ponto: bars after bars, muito humor, punch lines, beats bem sintéticas e features que se encaixam perfeitamente na levada do duo. Não tem o que pedir mais a esses dois, acredito que chegaram ao ápice, esse disco entrega o máximo de sua fórmula, e é bom demais.

Ouça: Run The Jewells – Legend Has It

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06) Hurray For The Riff Raff – The Navigator

Resenha em: Melhores de Março

Porque está entre os melhores: Outro discão que não saiu da minha cabeça o ano todo hurrayforthee não vai sair por um bom tempo. Alynda Segarra e cia conseguiram montar um álbum pessoal, corajoso, denso e ao mesmo tempo muito acessível sonicamente, gostoso de ouvir, até mesmo divertido. Eu adoro a forma como essas músicas passeiam por distintas temáticas (algumas delas bem complicadas, como perspectivas de vida mesmo, o futuro, o passado, batalhas pessoais, etc) de forma tão leve, incrementando distintas influências que de alguma forma encorpam muito bem a mesma sonoridade, seja os elementos percussivos da música latina, cordas de pano de fundo, teclados e guitarras mais tradicionais do rock alternativo e do folk. É um disco que tem tudo que eu espero de um bom disco de Rock, é o disco de Rock do ano pra mim. Ta em excelentes mãos este título.

Ouça: Hurray For The Riff Raff – Hungry Ghost

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05) Father John Minsty – Pure Comedy

Resenha em: Melhores de Abril

Porque está entre os melhores: Ahhhhh esse disco é muito, muito importante. Father purecomedyJohn é um dos artistas que eu mais gostei de descobrir este ano, amo suas letras e a sonoridade de suas composições, mesclando folk rock e chamber pop. Este disco particularmente tinha a dificílima missão de suceder o I Love You, Honeybear (2015), fantástico disco lançado dois anos atrás. Bom, Josh conseguiu fazer isso com uma pequena estrategia: fazer um disco focado numa determinada temática, e essa temática é a condição humana, a vida que vivemos em 2017, o que nos aguarda, como estamos vivendo. Parece grandioso, maluco, ou simplesmente chato, mas Josh faz isso sem flertar com a “crítica social”, sem soar mensageiro, pelo contrário: ele encara essa temática de peito aberto, com coragem, olhando de frente para a nossa própria forma de vida neste estágio da civilização, e é aterrecedor encarar isso sem se deixar impactar um pouquinho. Questões envolvendo o sentido, a liberdade, o amor, o futuro…tudo vem a tona, tudo é trabalhado com clareza, com ironia, com o humor. Faixas como Birdie e When The God Of Love Returns congregam questões centrais da filosofia com um olhar crítico e irônico sobre nossa forma de vida humana, são minhas favoritas. Pure Comedy é o disco de 2017, o disco desta década, destes últimos 30 anos, talvez dos próximos 50. Um disco que congrega bem as principais questões que nos envolvem, principais perspectivas e até mesmo possibilidades que nos encaram neste momento. É difícil, é bonito, é assustador, mas eu não posso deixar de no fundo ficar muito feliz de ouvir músicas tão bem construídas sobre tudo isso feitas hoje em dia, discaço.

Ouça: Father John Misty – Total Entertainment Forever

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04) Tyler The Creator – Flower Boy

Resenha em: Melhores de Julho

Porque está entre os melhores: Daqui pra frente (os 4 primeiros) qualquer um dos flowerboydiscos poderia ser o primeiro colocado. Eu realmente não imaginei que o novo disco do Tyler The Creator iria ser um destaque tão grande, mas eu amei este disco, toda sua proposta, sua performance, seus detalhes…é um disco belíssimo. Tyler passeia sobre uma série de dilemas, perspectivas, complexos pessoais que particularmente me afetam bastante, como solidão, dúvidas sobre si mesmo e problemas de relacionamentos com as outras pessoas. Parecem temas batidos, mas ele aborda isso com muita coragem e originalidade, seus versos estão mais afiados do que nunca, é antes de tudo um puta disco de rap. A produção também é uma aventura e tanto: o R&B, o Art Pop, a instrumentação ao vivo…tudo muito visual e orgânico. Não há pontos cegos neste disco, tudo flui muito bem, há muito para se aproveitar. É um disco que ainda vai receber destaque por muito tempo, e merece isso. Mais um trabalho que exemplifica o grande momento que vive o hip hop como plataforma de tendências culturais desta geração, e fico feliz de ver como tem riqueza lirica e sonora a ser explorada ainda no gênero..creio que este disco seria meu favorito do ano em muitos dos anos anteriores.

Ouça: Tyler The Creator – Who Dat Boy

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03) Kendrick Lamar – DAMN

Resenha em: Melhores de Abril

Porque está entre os melhores: Não adianta, este é O Cara da música desta década até damn.agora, o maior artista desta geração. Kendrick volta dois anos depois de lançar seu clássico contemporâneo Too Pimp a Butterfly (2015) com um disco mais acessível, com um som mais moderno porém ao mesmo tempo sem perder nem um pouco toda sua complexidade lírica, sua densidade de ideias e modo de formular suas mensagens. Assim, Kendrick consegue neste álbum agradar gregos e troianos: desde os fãs nerds e críticos que amaram toda sua experimentação lírica e sonora em TPAB, até os fãs mais tradicionais que queriam mais bangers e músicas com hooks mais trabalhadas. Me encontro no meio do caminho entre os dois, e talvez por isso tenha amado tanto este disco. Desde influências do trap e do R&B alternativo na produção até suas colaborações melodramáticas com cantoras pop, seus momentos de agressividade e puro rap em algumas bangers e seus momentos de introspecção e intricados jogos de palavras, Kendrick está por toda a parte neste disco. É um grande artista no seu auge, explorando suas potencialidades com muita liberdade, e muito talento. Grande disco mesmo, só não é meu disco do ano porque os dois primeiros colocados me moveram muito.

Ouça: Kendrick Lamar – ELEMENT.

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02) SZA – CNTRL

Resenha em: Melhores de Junho

Porque está entre os melhores: Bah, um disco que eu realmente não canso de ouvir, SZA-CTRL-album-coverque mexeu muito comigo durante este ano e que de alguma forma tem todos os elementos que eu estava procurando em um disco neste ano. A estréia de SZA – a primeira e única mulher da Top Dawg Entertainment – veio carregada de expectativas, mas não por mim, eu mal conhecia ela. Bastou a primeira escutada pra muita coisa me chamar a atenção: a produção sútil, jazzy, muito limpa e balanceada, a performance vocal descompromissada e delicada de SZA, experimentando as melodias de forma muito espontânea e emocional. Tudo isso, na verdade, encorpa muito bem um trabalho que me impactou tanto pela sua sinceridade, naturalidade, diria até inocência. SZA passeia por tantas temáticas corriqueiras e pessoais, lidando com perspectivas, dúvidas e dilemas muito constitutivos da experiência de juventude nesta década, nestes últimos anos. Posso estar sendo repetitivo, e certamente esse disco me encantou tanto meio que pelos mesmos motivos que o primeiro colocado, ainda que musicalmente sejam um tanto distintos. Num todo, acho que são dois álbuns que representam e expressam uma estética muito atual, muito viva, seja pelo som, pelas letras, pelas performances. Fico feliz de estar vivendo isso, espero que SZA tenha uma carreira brilhante pela frente como este disco aponta.

Ouça: SZA – The Weekend

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01) Lorde – Melodrama

Resenha em: Melhores de Junho

Porque é o melhor: A Lorde nasceu em 1996, o mesmo ano que eu. Quando ela lançou o lordemelodramaPure Heroine (2013), eu tinha 17 anos. Ainda era um tanto amargurado com todas as tendências estéticas e artísticas que acompanhavam minha geração, me sentia deslocado em tudo e o disco dela seria o último que eu colocaria pra tocar naquele ano. 4 anos depois, acho que bastante coisa aconteceu pra mim e pra ela. Até hoje eu não ouvi o Pure Heroine, mas assim que terminei de ouvir este disco eu não apenas senti uma compaixão tremenda com a minha geração, mas me senti parte dela, parte desta época, deste tempo. Melodrama não é nenhum grande tratado político-cultural sobre nossa década, tampouco move grandes tendências musicais ou apresenta alguma grande inovação. O que encanta nele é justamente ver – e experienciar junto – todo o crescimento de Lorde, a forma como ela aborda e explora detalhes do seu cotidiano e da sua individualidade pelos últimos anos. A produção fantástica de Jack Antonoff colore e destaca ainda mais estas narrativas, com um pop muito gostoso de ouvir, muito contemporâneo. É como ver de muito perto o crescimento de uma grande artista…acho que este disco vai ficar comigo por um bom tempo ainda, é o disco do ano.

Ouça: Lorde – The Louvre

Olhando novamente pra essa lista, acho que posso dizer que 2017 foi um ano muito bom musicalmente. Muitos artistas bons e interessantes, muitos discaços. Espero que os próximos anos mantenham o nível, e que venha 2018!!!!

Melhores Discos – Novembro 2017

E lá se foi mais um mês. Estamos chegando ao fim de um ano que tem sido considerado um dos melhores anos musicais desta década até agora. Não sei se concordo (habemus 2015), mas não tem como negar que tivemos no mínimo uns 10 excelentes discos esse ano, e vários muito bons. Neste mês, entretanto, os lançamentos foram mais escaços e os destaques também, então aproveitei pra ouvir alguns discos que haviam passado despercebidos por mim no mês anterior, e cheguei a alguns trabalhos bem interessantes, bora lá:

 

Casper Skulls – Mercy Works

Ahhhhh eu AMO encontrar artistas/bandas novas bons de estilos que eu gosto. Casper Skulls é uma banda canadense de rock alternativo e este é seu disco de estréia, depois de CasperMercyter lançado dois EP’s nos últimos dois anos. E que bela estréia é essa. Este é um tipo de rock alternativo que embora carregado de 90’ntismos de todo o tipo, ainda soa moderno, refrescante, interessante. Sua sonoridade é bem robusta, com um som de guitarra muito dinâmica, versátil e poderoso. Seja pelas melodias bem intricadas e diversas, seja pelo movimento harmônico envolvente dessas músicas ou seja pelos vocais masculinos e femininos intercalados, essa banda tem muito potencial e atributos para acrescentar a este tipo de som. Todos estes elementos são muito bem desenvolvidos através de 10 canções de um rock jovem, um tanto melancólico, mas muito bonito e pegajoso também. Gosto bastante da produção deste disco, consegue captar bem a energia criativa do som desta banda, as músicas tem uma atmosfera forte, apimentada, assegurando um som de guitarra bem distinto assim como uma densidade sonora considerável com o todo da instrumentação. Enfim, adorei este disco, ainda que por alguns momentos caia em lugares comuns do rock alternativo, é uma banda com muito potencial e já na sua estréia apresenta uma bela coleção de faixas para os amantes do gênero.

Ouça: Casper Skulls – Glories

Rina Sawayama – Rina

Meudeus, que EP maravilhoso, com mais 5 musicas seria um dos discos do ano certamente. Rina Sawayama é uma cantora-compositora (e modelo) japonesa e este é seu rinaprimeiro EP, um dos discos de pop mais coloridos, vibrantes, criativos e pegajosos que eu ouvi em um bom tempo. Pra começar, vale mencionar que Clarence Clarity produziu essas músicas, o badalado cantor-compositor americano, tido como um dos melhores nomes do R&B Alternativo atual. Bom, sobre isso eu não sei dizer muito, mas que ele acerta em cheio neste trabalho, isso não há dúvidas. Essas músicas conseguem mesclar uma sonoridade que bebe diretamente do Pop do início do século, do J-Pop, do Rock e da estética sonora vibrante e criativa de artistas como Prince (principalmente), o que é demais. Rina conduz este trabalho com bastante personalidade, letras bem sinceras, e ao mesmo tempo com melodias e refrões fantásticos, realmente grudentos e divertidos. Aliás, divertido é uma boa palavra pra descrever esse disco, eu sinto que é como o pop deveria ser sempre: não é superficial, é visceral, é muito dinâmico e consegue beber de muitas influências, compactando um som muito detalhado e bem produzido. Amo as guitarras, os sintetizadores, as levadas dançantes…enfim, pra quem dúvida da qualidade que pode haver no Pop, esse disco é uma boa pedida, vai quebrar a cara.

Ouça: Rina Sawayama – Ordinary Superstar

Wy – Okay

Taí um disco que passou completamente despercebido por mim no mês passado. E que vacilada que eu dei. Wy é um duo (um casal) sueco formado em 2014 e este é seu disco wyokayde estréia, após ter lançado alguns EP’s nos anos passados. É um dream pop/folk rock bem emocional, me chamou a atenção de cara a honestidade e a vulnerabilidade apresentada nessas letras. Ebba abre seu coração nestas faixas, sua voz limpa percorre essas doces e melancólicas melodias sobre vida amorosa, relações sociais, perspectivas de vida, coisas muito cotidianas e grandiosas que acometem pessoas jovens com a vida inteira pela frente e sem saber muito bem lidar com os percalços e direções do seu percurso. E esse tipo de abordagem me impacta bastante, obviamente. A sonoridade é pouco detalhada perto do que poderia ser explorado por trás dos vocais, mas é suficiente pra compactar bem essas músicas em torno de determinados temas e emoções. Normalmente com arpejos de guitarras caregadas de reverb, com uma levada bem sutil e alguns toques de teclado e contra-baixo, essa sonoridade é bem trabalhada por uma produção que busca deixar este som bem atmosférico, até mesmo disperso, com uma energia quase onírica e abstrata. Bom, boa parte disso se deve pela influência do shoegaze que a banda apresenta em alguns momentos, que eu particularmente esperava que fosse mais explorada, principalmente nos momentos mais explosivos de guitarra. De qualquer forma, é uma bela estréia, 10 músicas bem significativas e envolventes tanto sonicamente quanto líricamente, é uma boa experiência ouvir este disco.

Ouça: Wy – Indolence

Nana – CMG NGM PDE

Bela surpresa esse disco, tava faltando um destaque nacional nas minhas listas. Nana é uma cantora-compositora baiana e este é seu segundo disco de estúdio, lançado há nanangmngmpdealgumas semanas. Eu não sou muito próximo das sonoridades brasileiras, mas gosto de muita coisa que acabo conhecendo pontualmente, e este é mais um destes discos. Nana traz muito do samba e da bossa nova, mas carregados de muitos elementos do dream pop, do indie pop e até do folk. Ela tem esse jeito delicado e blasé de cantar que normalmente eu acho entediante e broxante, mas ela é afirmativa na sua postura, suas letras são divertidas, seu jeito acaba cativando com esta sonoridade muito rica levando suas músicas. Gosto muito dos sintetizadores e pianos, as harmonias e melodias de violão também são bem intricadas, contra-baixo e bateria igualmente bem demarcados num ritmo bem preciso, mas rico em swing e groove também. Num geral, são músicas bem versáteis, coloridas, com muitas camadas de instrumentação e detalhamento melódico. Eu diria que é assim que se faz (ou pelo menos, assim que eu gosto) um pop realmente interessante, e ela faz isso com sobras, uma segurança e uma naturalidade típicas daqueles artistas que sabem o que estão fazendo, sabem pra onde estão indo. Um belo disco.

Ouça: Nana – CMG NGM PDE

Menções Honrosas

Sharon Jones & The Dap-Kings – Soul Of A Woman

sharonjonesSharon e sua banda de acompanhamento foram um dos destaques da Soul Music americana na década passada, lançando alguns discos muito bem reconhecidos por público e crítica. Infelizmente, no final do terrível ano passado, Sharon faleceu de um câncer terminal. Este disco é um compilado das músicas que ela deixou com sua banda, e tem sido recebido como seu melhor trabalho até agora. De fato, não tem como ignorar o poder dessas músicas, as letras de celebração da vida, a voz potente e esganiçada de Sharon, tudo muito envolvente e impactante. A sonoridade, num geral, não escapa da estética vintage que qualquer cantor de Soul tradicional acaba embarcando hoje em dia. Mas isso pouco importa: essas músicas são bem escritas e entregam exatamente aquilo que os fãs do gênero esperam: uma música vibrante, emocional e poderosa.

Mick Jenkins – or more; the anxious

mickjenkinsUma pequena mixtape/EP do rapper americano, e talvez toda sua despretensão neste trabalho só o ajuda pra ser um compilado de músicas bem mais coeso e interessante que seu disco de estréia lançado ano passado, The Healing Component. Mick passeia com muita naturalidade com seus versos sobre essa produção bem viva, influenciada pelo Jazz e pelo Rap abstrato. Acaba sendo uma coleção de faixa mais cruas, experimentais e interessastes (afinal) que seu trabalho anterior, que pecou justamente pela pretensão de fazer algo tão direcionado em determinado tema, foi muito pensado. As é preciso só deixar levar, rolar.

Então é isso gente, estes foram os discos deste mês. O ano ta acabando, espero fazer algumas listas (quem sabe até uma playlist???) pra este ano bem cheio de lançamentos. Valeu e até mais!!

Melhores Discos – Outubro 2017

Eu gosto do mês de outubro. Normalmente começa a ficar quente, tem este clima bom de primavera que me passa uma baita paz de espírito. Infelizmente não posso dizer o mesmo quanto aos discos lançados este mês, pois foram muitos, tá dificil acompanhar. Alguns inclusive eu nem me prestei a ouvir, tentei focar naqueles que eu imaginei que havia mais probabilidade de me agradar, e consegui conhecer alguns discos muito bons de estilos bem diversos. São eles:

St. Vincent – MASSEDUCTION

Annie Clark chega ao seu sexto disco de estúdio com uma discografia bem sólida, seus últimos trabalhos agradaram bastante público e crítica. A cantora-compositora stvincentmasseductionamericana faz um rock bem contemporâneo: flertando com o pop, o eletrônico, até o experimental, mas sem abandonar a crueza do seu som de guitarra e da sua sonoridade em geral. Gosto bastante dos seus últimos dois discos, embora não seja muito fã da sua levada um pouco robótica, estética sonora futurista e produção muito sintética. Felizmente (pra mim), este disco traz um som mais agradável, versátil e doce, é mais palatável sem abandonar todos os elementos que fizeram a música dela interessante nos trabalhos anteriores. Jack Antonoff assume a produção elaborando arranjos pop bem intricados, espaçados e dinâmicos, e isso enriquece muito a música dela. Assim, faixas como New York e Happy Birthday, Johnny são muito bem-vindas neste catálogo, incrementando uma leveza e melancolia que caíram muito bem neste disco. De resto, Annie segue com seu cartel de bangers com um rock bem vibrante, conduzido de forma performática e visual. É o seu disco mais sexy, divertido e emocional, adorei.

Ouça: St. Vincent – Los Ageless

Destroyer – Ken

Destroyer é a banda-projeto de Dan Bejar, cantor-compositor canadense, e arrisco dizer que ele tem uma das discografias mais sólidas da música indie neste século. É até difícil destroyerkendescrever o tipo de som que ele faz: com sua peculiar voz e poesia, ele canta sob um som que mescla chamber pop, indie folk, rock alternativo, jazz e mesmo um pouco de synth-pop em alguns momentos de sua discografia. Seu som é sempre muito rico e versátil, com muitas camadas de melodias e com uma levada bem atmosférica e sentimental. Num todo, eu sinto que Destroyer está sempre compondo o mesmo disco de formas razoavelmente diferentes, mas se isso resultar em discos como Kaputt (2011) e Poison Season (2015), quem liga? Justamente, Ken é o sucessor de Poison Season, um disco que trouxe uma pegada mais orgânica e vibrante do que o antecessor, incrementando uma estética urbana no seu já calibrado senso poético. Desta forma, parece que Ken fecha o círculo dos seus últimos três discos voltando á melancolia pop de Kaputt, mas talvez sem tanta profundidade lírica e sonora que da última vez. Ainda assim, este disco praticamente não tem uma bola fora. Todas as músicas fluem muito bem, há um senso de atmosfera e levada que é muito bem conduzida por ele e sua banda por todo o trabalho, de forma que você ouve este disco de uma só vez com tranquilidade. Os instrumentais continuam tão limpos e espaçados como sempre foram, as melodias bem encaixadas e sentimentais, e sua voz e líricidade com uma performance tão livre e madura como vinham sendo nos últimos discos. Desta fez, parece que ele conseguiu demarcar de forma bem coesa uma sensibilidade urbana, melancólica e noturna bem envolvente em toda a estética sonora deste trabalho. É muito palatável e agradável, indie folk de qualidade mesmo.

Ouça: Destroyer – Sky’s Grey

Linn Da Quebrada – Pajubá

”Será que não fomos por tempo demais inofensivas? Não está na hora de a gente passar a dar medo, a assustar? E também a se assustar, se pôr em risco? Por isso me coloco nessa posição: eu quero duvidar da imagem consolidada há tanto tempo no espelho. Eu quebro esse espelho para que possa me reinventar. (…)”

Se não me engano, este é o primeiro disco brasileiro desta minha série de discos deste ano. Mas meudeus, QUE disco é esse. Quero começar justamente com esta quote da Linn linndaquebradanuma entrevista para o site da globo este ano. Alguns elementos importantes: o risco, a invenção, o incerto. E Linn é mais uma de uma geração de artistas que, pra mim, elaboram estes elementos na arte brasileira como ninguém tem feito, representando e articulando tendências, movimentos e estéticas que demarcam potencialidades na sociedade brasileira de hoje em dia. Criatividade extremamente contemporânea, e jovem afinal de contas. Falo de uma série de artistas trans – mas não necessariamente trans – que tem aparecido na música brasileira, seja o funk, o hip hop, o R&B ou o pop. No caso da Linn, ela começa no hip hop, mas este disco transgride limites e acrescenta elementos do funk e do trap, principalmente. E a produção é realmente um negócio espetacular: é tão bombástico, visceral, vibrante..de forma nada unidimensional, seja pelos sintetizadores, pelos padrões de percussão, a levada funk extremamente crua destes instrumentais e principalmente a performance de Linn e cia. Ela faz rap, canta, faz funk, acompanha a levada dessas músicas de forma tão livre e direta que eu não tenho como não achar isso tudo extremamente punk. As letras são carregadas de sexualidade explícita, mas ao mesmo tempo um senso de humor muito próprio, lidando de forma muito transgressora com questões de identidade e relacionamentos, antes de tudo é muito divertido acompanhar essas músicas. Realmente acho que este tipo de som é o que há de mais interessante e rico a ser desenvolvido na arte brasileira hoje, Linn e cia estão na vanguarda. Um dos melhores discos do ano fácil.

Ouça: Linn Da Quebrada – Coytada

Big K.R.I.T. – 4eva Is A Mighty Long Time

Outro discaaaaço. O terceiro disco de estúdio (e mais uma série de Mixtapes) do rapper do Mississipi já é o seu trabalho mais maduro, completo, poderoso. São dois discos em bigkritum, quase 90 minutos de muito Jazz, R&B, Gospel, Rock, Trunk, Trap e sobretudo um hip hop afirmativo e auto-consciente. Krit realmente soa como um rapper maduro aqui, não só pelas suas rimas, seu flow, sua voz, sua produção, mas sobretudo pela forma como aborda tantas temáticas pessoais e difíceis neste disco. Difíceis para qualquer um com seus vinte e poucos anos, e ele aborda com muita sinceridade a partir de sua perspectiva de um homem negro no show business americano em 2017, com a destreza e profundidade que faz qualquer um se identificar com os dilemas e escolhas que ele está fazendo neste momento. Assim, Krit versa sobre o mundo do rap, os outros rappers, o mundo da fama e sua vida pessoal como se estivesse escrevendo um grande tratado para si mesmo, um tratado sobre a sua fé, sobre o amor, sobre a confiança. São vários os versos envolvendo relacionamentos e questões envolvendo sua persona, mas sempre com este pano de fundo que é o curso geral de sua vida, seus objetivos, sua busca por sentido, por fazer as escolhas certas segundo sua fé, etc. Acho que há uma beleza muito grande na sinceridade e coragem com que ele aborda tudo isso sobre si mesmo neste disco, uma beleza humana de alguém muito jovem atrás de respostas, sentidos e caminhos segundo suas crenças (concorde-se ou não com elas). Krit produz boa parte deste disco também, e não tem como não mencionar a riqueza dessa sonoridade. Talvez seja um dos primeiros artistas a elaborar uma sonoridade tão orgulhosamente sulista ao mesmo tempo que dialoga diretamente com o Soul/R&B/Rock clássico desde Outkast. Toda a ambientação, a atmosfera, a visualidade e a estética sulista ta vertendo neste disco, seja no flow ou nos bangers de trap e trunk que aparecem por toda a parte nestas faixas. Mas Krit e cia conseguem incrementar esta sonoridade com muitos elementos do Rock e da Black Music, algo que infelizmente muito dos rappers sulistas abandonaram durante os últimos anos, mas que era muito presente no trablho de Outkast, Goodie Mob & cia. O resultado é um som muito limpo e vibrante, detalhado, dinâmico. Talvez os únicos pontos que podem se tornar negativos ao longo do tempo na experiência de ouvir este disco é que são tantas hooks pegajosas que o disco pode se tornar um pouco saturado, além de Krit soar um pouco mensageiro as vezes também. As faixas se destacam tanto individualmente que por vezes o disco soa como uma coletânea. Mas isso é muito pequeno, ouso disco que Krit produziu um clássico do Hip Hop do sul americano. E lá se vão 20 anos de domínio sulista, e contando…

Ouça: Big K.R.I.T. – Get Up 2 Come Down

Snoh Aalegra – FEELS

Primeiro disco de estúdio da cantora-compositora sueca de R&B, que já havia me chamado atenção ano passado com o seu EP Don’t Explain, pela medida com que ela snohaalegrafeelsconseguiu elaborar distintas tendências do R&B num som e identidade muito próprias. Bom, isso continua neste disco de estréia, e ela parece ter evoluído bastante pra encontrar o seu próprio som e estilo. Gosto bastante da estética vintage desta produção, seu jeito de cantar e suas melodias vocais trazem muito do R&B clássico, enquanto a sonoridade e a estrutura das músicas acrescenta vários outros elementos, principalmente do Jazz e do Hip Hop. Os samples e as participações encaixam muito bem nas músicas, tudo converge na mesma atmosfera abafada, suave, agoniante. Tem um quê emocional muito forte nestas melodias que é muito bem conduzido por ela e pela produção, fazendo jus ao nome do disco. Toda sua performance é bem segura, como cantora e compositora, é realmente um disco bem encaixado de R&B. Sinto que ela é um pouco underated inclusive, merecia mais atenção – que acredito que logo logo terá – pelo que tem feito nos últimos anos, este disco consegue trazer o que sempre foi tão atraente no R&B para nossa modernidade sonora, sem perder nenhum pouco da sua identidade.

Ouça: Snoh Aalegra – Nothing Burns Like The Cold

Menções Honrosas

Julien Baker – Turn Out The Lights

julienbakerturnouthtelightsJulien é uma cantora-compositora americana que chamou muito atenção de público e crítica dois anos atrás com o seu debut, Sprained Ankle. Até hoje, um dos meus discos favoritos dos últimos anos: Julien trouxe uma modalidade de folk rock muito visceral nas suas temáticas pessoais, abordando de peito aberto questões como depressão, drogas e religião, com uma crueza beirando o emocionalmente insuportável. Bom, dois anos depois ela está de volta com um disco muito parecido, só que com uma produção bem mais refinada e sem a crueza e visceralidade do trabalho anterior. Ainda são uma série de canções tristes abordando os mesmos temas, mas com pianos e cordas aprimorando estes arranjos. Acho que ela se torna um pouco repetitiva, não há como fazer o mesmo disco duas vezes. Sinto que ela pode mais, tem mais a dizer e a criar sonicamente, não é um disco que me chamou a atenção, prefiro ficar ouvindo o debut se for o caso. Mas vale a pena conferir, pela sua originalidade.

Kelela – Take Me Apart

kelela-take-me-apart-album-debut-newPrimeiro disco da cantora-compositora de R&B Alternativo, eu confesso que não entendi muito bem este disco. Esperava um R&B altamente experimental, espaçado, cru, algo como FKA Twigs / Arca & Cia tem feito nos últimos anos. Kelela traz uma produção que é de fato muito influenciada por estas sonoridades, mas suas composições num geral estão mais pautadas no R&B dos anos 90, melodias vocais estendidas e bem conduzidas. Acho que acabou soando espaçado e etéreo demais pra esse tipo de abordagem, algo não encaixou muito bem. Mas ainda há uma série de faixas bem interessantes pra quem curte o gênero, vale conferir.

Então é isso pessoal, próximo mês tem mais.

Melhores Discos – Setembro 2017

Setembro normalmente é um mês chato pra mim..arrastado, enjoado. Pelo menos é o início da primavera, e seus bons ventos sempre acabam trazendo algum bom lançamento, alguma boa notícia. Neste interminável setembro, uma enxurrada de lançamentos vieram a tona e eu tive dificuldade de acompanhar. Mas segui fiel a proposta (rs) e consegui escutar o máximo que consegui, é possível que alguns discos fiquem para a lista de outubro, mas os que ficaram neste mês deram conta do recato, vamos a eles:

Susanne Sundfor – Music For People in Trouble

Belíssimo disco, muito lindo mesmo. Sétimo disco de estúdio da cantora-compositora norueguesa, ela conseguiu se estabelecer como uma artista com uma identidade própria, susanne_sundfor_musicforpeopleintrouble_2017e vem numa leva de discos bem aclamados por público e crítica nesta década, e este não foi diferente. É meu primeiro contato com a obra da artista, e não pude deixar de ficar impressionado. Pra começar, a atmosfera que percorre este disco de profunda melancolia e intimidade é muito bem produzida, de forma bem envolvente e comovente. Há uma potência orgânica bem interessante nessa produção, as músicas soam muito vivas e limpas, o que solidifica bastante a expressividade dessas composições. E o som em si é um folk com muitos elementos do art pop e do chamber pop, mas nada muito vibrante ou colorido. Seja pianos, cordas ou principalmente a voz de Sussane, tudo soa com uma intensidade bem marcante ainda que de forma delicada e pouco explosiva. Gosto bastante dessas letras também, com um calibre poético bem aguçado e uma músicalidade muito própria, Sussane passeia por temáticas espirituais e pessoais com bastante naturalidade. Enfim, é um disco que tem praticamente tudo que eu espero em um disco de música folk. São músicas para se ouvir em silêncio, com o silêncio, apreciando os detalhes e a espiritualidade que percorre estas 10 faixas. Lindo demais.

Ouça: Susanne Sundfor – Mountaineers (featuring John Grant)

Open Mike Eagle – Brick Body Kids Still Daydream

Sexto disco de estúdio do rapper-poeta de Chicago, este é um trabalho bem sólido no que se propõe: um hip hops sútil, cadenciado, mas muito rico liricamente. Sendo assim, openmikeeaglebrickbodykidsmusicalmente não há nada que chame muito atenção aqui: beats cadenciadas carregadas de elementos do jazz, do r&b e até do blues, guitarras e pianos com bastante delicadeza pra dar a base para Mike pintar essas músicas. E ele faz isso muito bem. Gostei demais do seu estilo lírico, da forma como aborda os temas: não muito abstrato/obscuro, não muito pretensioso quanto as suas referências, não muito mensageiro, na medida certa do jogo de palavras, ironia, construção de personagem e recursos líricos para contar histórias. Tudo isso constrói uma atmosfera bem fluída para Mike explorar as temáticas dessas músicas: pobreza, memórias, masculinidade, contingencias da vida. A metáfora dos prédios – uma referência às Robert Taylor Homes, projeto de casas populares que Mike cresceu na periferia de Chicago, demolidas em 2008 – é um ponto sútil muito bem trabalhado nessas músicas para abordar questões pessoais, mas que dialogam diretamente com realidades, sentimentos e perspectivas que muitas pessoas vivem. Seja a vulnerabilidade, a falta de esperança, ou mesmo complexos pessoais que as pessoas enfrentam nessas realidades, Mike sabe tocar nestas sensibilidades, sabe expressar e sentir a angústia destes sentimentos em muitas dessas músicas. E a partir de tudo isso, ele consegue passar boas mensagens pra essa juventude. Num todo, é um disco que consegue ser tocante e reflexivo, ainda que musicalmente algumas dessas beats possam ser um pouco enjoativas. Um bom disco de hip hop.

Ouça: Open Mike Eagle – Brick Body Complex

Phoebe Bridgers – Stranger in the Alps

Disco de estréia da cantora-compositora norte-americana, eu amei demais essa estréia, amei mesmo. E não tinha como ser diferente, Phoebe faz muito bem um estilo de música phoebebridgersstrangerinthealpsque eu sou apaixonado: o “Indie” Folk, ou melhor dizendo, a música folk que explora bem elementos do pop, do chamber, as vezes do experimental. E esse disco faz isso, de uma forma que particularmente me toca bastante, ou seja, de uma forma bem jovem, inocente, contemporânea. São 10 músicas bem cadenciadas, com harmonias bem doces e melodias bem melancólicas, sobretudo construindo uma atmosfera contemplativa, uma energia nostálgica com uma beleza bem particular. A produção trabalha muito bem a delicadeza deste som: uma sonoridade bem limpa, dialogando muito bem com o silêncio e o toque detalhado de alguns instrumentos: cordas (violinos e celos), efeitos de guitarra e vocais harmonizados acrescentam uma dinâmica bem boa para os arpejos de guitarra que fazem a base de quase todas essas músicas. As temáticas exploram bastante a agonia juvenil: dúvidas, arrependimentos, ansiedades, desejos. Talvez por isso me cative bastante, não sei. O que eu sei é que seja pelo som, pela voz ou pela temática lirica, Phoebe montou um álbum de estréia bem tocante e envolvente.

Ouça: Phoebe Bridgers – Motion Sickness

Benjamin Clementine – I Tell A Fly

Ok eu acho que me apaixonei por este cara. Benjamin é um cantor-compositor britânica e este é seu segundo disco de estúdio, e cara…ele simplesmente tem estilo. Há todo um benjaminclementinecuidado estético, no som, no visual, na voz e na forma de se apresentar, que já faz deste disco algo chamativo e gostoso de experienciar. Com uma sonoridade vibrante e explosiva, carregada de elementos do Jazz, do R&b clássico, do Soul e também muito da música clássica nas construções de piano e cordas bem dramáticas de acompanhamento, Benjamin performa com muito carisma e personalidade. De fato, ele se sente livre sob estas sonoridade, e consegue transmitir muito bem sentidos de aventura e experiência por todo a visualidade e intensidade destes sons e histórias. Sua performance vocal é um capítulo a parte, seja pela sua voz belíssima, pela forma bem performática com que ele interpreta e entrega essas melodias, ou pelas próprias letras, que conseguem pintar cenários muito vivos e envolver sensivelmente o ouvinte. É um disco musicalmente muito aventureiro, é muito fácil se perder nessas músicas, nos cantos destes versos, estrofes, melodias. É verdade que o trabalho não é muito sólido, que decai na segunda metade, que há faixas que pouco acrescentam e quebram a atmosfera vibrante do álbum. Mas isso pouco importa: quando acerta, este disco é espetacular.

Ouça: Benjamin Clementine – Phantom Of Allepoville

Menções Honrosas

The National – Sleep Well Beast

thenationalsleepwellbeastO sétimo disco de estúdio dos norte-americanos queridinhos do indie deste século tem bons momentos, mas está longe dos melhores momentos da banda. Na real é um disco que eu gostei de praticamente todas as músicas, mas nada me chamou muito atenção. Doces melodias de piano, drum machines fazendo as percussões também achei que funcionou bem. Gosto das letras: claras, até certo ponto diretas, mas ainda assim bem significativas e densas. Ainda assim, individualmente as faixas são bem esquecíveis. Acho que a mixagem talvez pudesse ter deixado este som um pouco mais graúdo, ou simplesmente que as estruturas das músicas não fossem tão parecidas. Mas enfim, pra ouvir um indie melancólico corriqueiro cai bem.

Alvvays – Antisocialites

alvvaysantisocialitesSegundo disco de estúdio de mais uma banda de indie pop/rock que surgiu nesta década, Alvvays nunca me chamou muito atenção, sempre achei mais do mesmo. Mas este disco até é divertido: um rock alternativo bem descontraído, leve, direto ao ponto, melodias bem construídas e pitadas de pop punk. Ainda assim, acho que o som deles é pensado demais. Muitas camadas de guitarra, sintetizadores e reverb até o talo tiram um pouco da potência que essas composições teriam se tudo fosse um pouco mais simplificado, um som mais seco e enérgico caíriaa bem. Mas enfim, este sou eu. Pra quem quer um rock alternativo com camadas de dream pop pode ser uma boa pedida.

Protomartyr – Relatives in Descent

protomartyrO 4º disco de estúdio da banda americana de pós-punk tem sido recebido como o disco do ano até agora por crítica e público, e eu posso entender o hype em volta deste álbum. É uma série de músicas que explora muito bem pontos altos do punk e do pós punk, com senso de humor, densidade lírica, muito peso e uma levada bem crua conduzindo quase todas as músicas. Há muitas ideias e uma estética sonora bem própria na abordagem da banda, seja pelos vocais despretensiosos e as letras obscuras de Joe Casey (que por vezes emprega um flow quase de rap nas suas melodias) ou as guitarras bem retas e a bateria bombástica dessas músicas, há uma fluidez notável nestas composições, com bastante dinâmica e versatilidade na própria estrutura das músicas. Dito isso, eu gostei de praticamente todas essas músicas, mas nada se destacou muito pra mim. Acho que o vocal não tem muito carisma, não gosto de lirismo obscuro demais (a ponto do autor ter que ficar explicando o que ele está querendo dizer com citações no genius lyrics) e a sonoridade também não me é impactante. Não é explosiva nem silenciosa, tem versatilidade, tem ideias, mas nenhum tipo de sensibilidade me desperta nestas músicas. Ainda assim, entendo que quem procura por um pós-punk próximo do punk clássico pode achar uma mina de ouro no trabalho desta banda.

Wolf Alice – Visions Of Life

visionsoflifeNão tem como não mencionar o segundo trabalho da Wolf Alice, banda britânica que eu amei demais o disco de estréia lançado dois anos atrás. E é estranho porque ainda que nada tenha mudado muito descaradamente do seu trabalho anterior, eu realmente me decepcionei muito com este disco. Se My Love Is Cool apresentou uma banda com um som muito maduro, bebendo do rock alternativo noventista mas acrescentando com cuidado elementos do shoegaze e do dream pop, este disco apresenta mais ou menos os mesmos elementos, mas sem a mesma precisão e cuidado de construção. Do contrário, as faixas revezam entre estilos razoavelmente diferente, fazendo um compilado de tendências do indie bem bagunçado. E o pior: as faixas são ruins. Os efeitos vocais de Ellie pioraram, ela aderiu uma péssima mania de vocais sussurrados, e letras que beiram a infantilidade do pior do rock juvenil. Enfim, se ignorar as letras, dá pra tirar algumas 3 ou 4 faixas boas, mas é uma sequência bem decepcionante.

E foi isso por este mês pessoal. Espero conseguir seguir acompanhando, o final do ano vem aí e espero que tenhamos melhores lançamentos ainda. Até a próxima!!

Melhores Discos – Agosto 2017

Finalmente terminou o longo mês de Agosto. Que na verdade neste ano nem foi tão longo assim, mas mesmo assim ainda foi bem extenso musicalmente, com uma diversidade e regularidade de lançamentos que deixou difícil a missão de qualquer um que tentasse acompanhar com maior assiduidade. Eu dei um foco maior em alguns discos, outros que até poderiam ser interessantes nem cheguei a escutar. De uma forma ou de outra, estes são os discos que mais me chamaram a atenção nos últimos 31 dias:

The Districts – Popular Manipulations

Banda americana da Pensylvania, este é o terceiro disco de estúdio deles, e eu sinto que cada vez mais eles evoluem e aperfeiçoam seus trabalhados. Conheci a banda com o seu thedistrictssegundo trabalho, A Flourish and Spoil (2015), um disco marcado por um rock alternativo bem intenso, grandioso e intricado, com guitarras robustas e melodias bem fortes. Ainda que este 3ª disco talvez não supere o antecessor, é um disco que me impactou mais e que demonstra acréscimos interessantes no trabalho deles. Gosto de como essas letras são bem diretas e a performance é bem expressiva, dando todo um teor bem intenso e emotivo nessas músicas, que num todo me constituem composições carregadas de uma força criativa muito grande…a banda consegue extrair melodias, ganchos e frases marcantes em praticamente todas as músicas aqui, mesmo que a construção das músicas em si não seja muito sólida. De fato, é a dinâmica e versatilidade que marca essas músicas. Mudanças de rítmos, melodias, pontes, é como uma viagem sonora mesmo, sem perder direção ou substancia no caminho. As guitarras explosivas continuam sendo um ponto alto, e a produção trabalha muito bem essas texturas e efeitos pra manter a grandiosidade deste som bem palatável e envolvente. É um grande disco, rock alternativo com muita personalidade e identidade própria.

Ouça: The Districts – If Before I Wake

Brand New – Science Fiction

Não é um disco que eu gostei tanto quanto o mencionado acima ou sequer tanto quanto a irritante fanbase do grupo aprovou, mas não há como negar a qualidade dessas brandnewcomposições, num todo é um disco bem sólido e agradável de ouvir. Brand New é uma banda de rock alternativo/emo que marcou os anos 2000 com alguns trabalhos, e depois de muito tempo eles voltaram com este (5º) disco, que acredito ser o último da banda. Não tenho como dizer o quanto este disco se diferencia dos seus anteriores, mas me parece ser uma abordagem mais concisa e acessível do seu som característico, bebendo mais do rock alternativo noventista e dando mais ênfase no trabalho melódico do que qualquer outra coisa. Não há vocais gritados, tampouco um som muito intenso ou vibrante. Essas músicas, num geral, sequem uma estrutura bem parecida e repetem muitos clichês do rock alternativo de duas décadas atrás, mas ainda assim consegue trabalhar bem esses maneirismos de forma que casa muito bem com o teor reflexivo/introspectivo destas composições. Gosto muito do trabalho harmônico e melódico das guitarras, muita dinâmica e cuidado nestas construções, deixando este som muito bem encaixado. Os refrões são bem marcantes também, e a produção capta bem a atmosfera grandiosa destas composições, de forma que muitas dessas músicas envolvem facilmente qualquer despercebido que passe por elas. Não é nenhum disco que mereça todo este impacto de recepção que possa estar tendo, mas do início ao fim ele entrega o que promete: um rock emotivo, expressivo e acessível.

Ouça: Brand New – Same Logic/Teeth

Brockhampton – Saturation II

É incrível como em 2 meses eles conseguiram superar seu marcante primeiro disco, Saturation. Pois bem, Brockhampton é o grupo mais interessante que surgiu na música saturation2em 2017: coletivo de rappers, produtores, cantores e ilustradores americanos, lançaram seu primeiro disco 2 meses atrás e já emendaram o segundo (e até o final do ano lançaram o terceiro, fechando a trilogia). Todas as qualidades que se encontram no primeiro trabalho se encontram aqui: versatilidade, personalidade, carisma, entrosamento, versos muito afiados e divertidos derramados sobre uma produção vibrante e envolvente. Brockhampton chama a atenção pela maneira como cada integrante acrescenta algo, e a diversidade própria do grupo: diversidade racial, sexual, de abordagem lírica, estilo e conteúdo. Desta vez, porém, há acréscimos positivos que num geral constituem um acabamento bem interessante em várias qualidades do grupo. Por exemplo, há uma compactação bem sólida entre os integrantes, isto é, tempo mais equilibrado pra cada um nas músicas, o que demarca ainda mais sua diversidade. Além disso, a produção continua tão viva e orgânica como antes, só que mais inventiva e diversa: toques do hip hop clássico californiano, baixos pesados em algumas músicas além do flerte com o R&B alternativo no seu quesito de experimentação melódica. Ainda que eles sigam a mesma fórmula e que num geral este disco continue sendo uma coleção de bangers, todo o acabamento deste disco é melhor trabalhado, até mesmo os interlúdios e as faixas mais leves. Espero que sigma evoluindo, pois eles tem muto talento e muito a acrescentar no mundo da música atual, expondo muita criatividade congruente com o espírito desta geração.

Ouça: Brockhampton – GUMMY

Daniel Caesar – Freudian

A estréia de Daniel Caesar é um prato cheio de um R&b doce, polido e muito suave. Daniel é um jovem cantor americano de R&B, tendo ja feito aparições em alguns danielcaesartrabalhos e costuma trabalhar entre o Soul, o R&B e até com certa proximidade do Hip Hop. De uma forma ou de outra, Daniel já se apresenta aqui como um cantor com credenciais bem interessantes, trabalhando bem a suavidade de sua voz com um som igualmente suave, limpo e ao mesmo tempo denso e aconchegante. Olhando por este lado, este disco é um trabalho exemplar de R&B: nem tão clássico, nem tão moderno, nem tão experimental e/ou alternativo, essas músicas exploram o R&B através de melodias e harmonias vocais com levadas bem ricas, românticas e muito bonitas. Gosto dos acompanhamentos de piano, guitarras e sobretudo os grooves de baixo que mantém uma cadência bem forte dando base pra essas músicas. A produção também trabalha muito bem pra formatar uma atmosfera forte nestas músicas, montando toda aquela energia quente de proximidade e eu diria até sensualidade nestas composições, que por si só já apresentam melodias emotivas e introspectivas bem palatáveis. Ainda que talvez falte mais dinâmica, seja instrumental ou na própria construção harmônica e melódica dessas músicas, Daniel se apresenta como um cantor-compositor com muito potencial, pois além de sua bela voz ele mostrou que sabe compor canções com uma atmosfera igualmente densa, bela e impactante por trás. Além, claro, de trazer de volta atributos bem interessantes para o som do R&B e Soul atual.

Ouça: Daniel Caesar – Get You

Menções Honrosas

Soccer Mommy – Collection

soccermommyA estréia de projeto da cantora-compositora americana Sophie Allison é um belo apunhado de músicas de um indie/rock alternativo bem melancólico e introspectivo, muito rico em melodias bonitas e impactantes para jovens melancólicos como eu. Gosto do timbre destas guitarras, que trabalham harmonias bem básicas mas adocicadas de tal forma – com teclados, rítmos e as melodias vocais de Sophie – que soam muito bem e fazem a base dessas músicas bem também. Dito isso, o disco é muito curto e é basicamente um apunhado de músicas que ela já tinha apresentado antes em outros projetos (EP’s e afins). Além, claro, de soar um tanto genérico e repetitivo por vezes, sem muita personalidade própria. Mas gostei e espero ouvir mais dela daqui pra frente.

J.I.D – The Never Story

jidtheneverstoryDisco de estréia do rapper de Atlanta, esse disco saiu no final de julho e ouvi bastante ele no início do mês, faz um tempinho. Mas não tinha como ficar de fora, a estréia de J.I.D tá fazendo um barulho danado no hip hop americano este ano. E não é por menos: ele é um rapper carismático, com muita personalidade nos seus versos afiados sob uma produção bem orgânica, que trabalha um som tenso e pesado em algumas faixas e um pouco de R&B adocicado em outras. Gosto do jeito de JID rimar e se apresentar nestas faixas, trabalhando temáticas pessoais e despretensiosas ao mesmo tempo. Acho que num geral o disco poderia ser mais polido, algumas músicas soam inacabadas, e também os refrões e a participação de cantores (as) acrescentariam muito em algumas faixas. Mas é uma bela estréia.

Declan McKenna – What Do You Think About The Car

declanOutra indie kid estreiando neste mês foi o inglês Declan Mckenna, de apenas 19 aninhos (mais novo que eu, wtfff). Eu gostei bastante deste disco, ainda que não seja nada muito impressionante…soa genérico e repetitivo muitas vezes, além de beber de alguns clichês bem batidos do indie rock. Ainda assim, num geral, esse disco apresenta uma série de composições que mixam um indie rock com um art pop, carregado de inocência juvenil. Gosto das melodias, há refrões bem pegajosos por todo este disco e também a produção trabalha bem a dinâmica sonora destas músicas. Enfim, nada impressionante, mas uma boa estréia, Declan tem talento como compositor.

Melhores Discos – Julho 2017

Enfim terminou o mês 7 e suas férias enganosas do seu inverno igualmente enganoso, deste ano que está passando mais rápido do que eu gostaria. Houveram bons lançamentos musicais, como tem sido a regra neste ano: artistas novos alcançando seu ápice, crescendo, ascensões da música alternativa também, estou gostando. Neste mês, especificamente, houveram pelo menos alguns discos que me chamaram muito a atenção, que acabei saboreando (rs) por um bom tempo, pois são muito bons. Vamos aos destaques:

Jay-Z: 4:44

Pra alegria da família brasileira, finalmente o senhor Shawn Carter largou um pouquinho a máscara e o personagem que ele vem interpretando repetidamente e jayz444unidimensionalmente pelos últimos 15 anos pra se abrir, honestamente falar de assuntos importantes de seu próprio universo, da sua volta, do dia-a-dia do hip hop, enfim, da vida. É muito bom ouvir um dos melhores (talvez o melhor) rapper dos últimos 15 anos com este esforço, destilando seu talento e finalmente investindo num trabalho com substância, significativo. Dito isso, 4:44 não é nenhum clássico como Blueprint ou Reasanoble Doubt. Pra começar, No ID faz um belo trabalho na produção: levada R&B bem suave e doce, pianos, harmonias vocais, percussões e beats bem cadenciadas formatam um som bem pungente, carregado de Jazz e Soul, muito bom de ouvir. Só isso já dá uma energia vibrante pra este disco, um bom pano de fundo pros versos de Jay. Da sua parte, ele realmente abre o coração: desde problemáticas particulares do seu casamento que vieram a tona nos últimos tempos até questões envolvendo a nova geração do RAP americano, Jay é reflexivo, conversa consigo mesmo e com quem o ouve há tanto tempo, se arrepende, ironiza, brinca com as situações, está em plena forma: jogos de palavras, punch lines, versos bem articulados e carregados. Infelizmente, o ponto baixo é seu flow: Jay perde o rítmo das músicas muitas vezes, de fato, ele nem consegue incorporar a energia instrumental em vários momentos, de forma que chega parecer que ele está lendo a letra enquanto o som toca ao fundo, o que é muito ruim. Num todo, é um disco bom e necessário, pra todo mundo: Jay, a comunidade do Hip Hop, e os fãs. Esperamos que ele siga este caminho.

Ouça: Jay-Z – The Story of OJ

Waxahatchee – Out in the Storm

Ba, que disco maravilhoso. Out in the Storm é o 4º disco de estúdio do projeto musical de Katie Crutchfield, cantora-compositora com trajetória no cenário do rock alternativo waxahatchee-out-in-the-storm-album-silver-video-katie-crutchfieldamericano, teve banda (P.S. Elliot) com sua irmã no final da década passada, mas agora ambas seguem trajetórias solo. Bom, este disco é um clássico compilado de 10 músicas do rock alternativo típico, poucos acordes, poucos minutos, muito direto e conciso. Mas nada aqui é simples ou raso, do contrário, as composições são muito bem arranjadas, com muito cuidado e detalhamento. Guitarras de apoio bem pontuais, elementos de percussão também, além do teclado e linhas de baixo que se sobrepõem em alguns momentos. O ponto disso tudo é a produção, que consegue formatar este som de forma muito atmosférica, densa, carregada. As guitarras soam grave, e ao mesmo tempo todos os detalhes da instrumentação ressoam muito bem, enquanto a voz limpa de Katie desenrola belas melodias. As músicas, por si só, são aquele mix muito bem feito entre o rock alternativo e o folk: rock nos arranjos e composição, folk na levada lírica. E essas letras, assim como as melodias vocais que lhes acompanham, são lindíssimas, muito emocionais, introspectivas, leves, com um toque pop bem envolvente e fácil de se cativar. Enfim, este disco pra mim é rock alternativo excelência, amei.

Ouça: Waxahatchee – Silver

Tyler The Creator: Scum Fuck Flower Boy

Outro discaaaaaaaaaço. Tyler é uma das figuras mais controvérsias e interessantes a sair da música jovem nos últimos anos: rapper do coletivo Odd Future, rapper em carreira flowerboysolo depois, ele sempre teve uma personalidade e abordagem musical um tanto desafiadora, sarcástica, ofensiva. Trabalhando com uma série de artistas jovens que apareceram junto com ele na cena californiana (como Frank Ocean e Earl Sweatshirt), Tyler ganhou destaque entre estes por essa unicidade mesmo de tudo que lhe envolve artisticamente. Este disco, por si só, é seu trabalho mais completo, elaborado, poderoso e substancial, sem dúvidas. Começando com a produção fenomenal: um som muito limpo, suave e vibrante, bebendo diretamente do R&b com excelentes levadas de piano, sopros, e principalmente melodias vocais. E isso tudo foi arranjado com muita versatilidade, há uma dinâmica de desenvolvimento muito grande nessas canções, com os versos de Tyler sempre achando espaço para se desenrolarem num flow absurdamente encaixado. E Tyler realmente é a estrela deste show: suas letras nunca estiveram tão pessoais, tão reflexivas, introspectivas. E eu adoro a forma como ele aborda tudo isso, com um certo senso de humor macabro, com sinceridade, falando consigo mesmo e afinal tratando de sentimentos muito fortes de solidão, isolamento, angústias e dúvidas. De fato, muitas dessas questões rolam em volta de sua sexualidade: a temática volta e meia acaba contornando sua confusão interna, e podemos dizer que Tyler “sai do armário” em algumas faixas, o que é uma bomba no mundo do hip hop. De todo modo, este disco tem tudo que eu procuro num disco de rap: muita versatilidade e dinâmica, letras riquíssimas (seja em reflexões ou emoções), um flow inteligente e encaixado, e um som vivíssimo pra dar cor pra tudo isso. Um discaço e desde já um destaque do hip hop desta década, arrisco dizer.

Ouça: Tyler – Boredom

Lana Del Rey – Lust For Life

Ahh eu realmente amei este álbum. Este é o quinto disco de estúdio da cantora-compositora americana, queridinha do chamber/art pop dos últimos anos, com toda sua lustforlifevisualidade e estética que cativou muito da cultura jovem desta década. Mas ela não é “só” isso, não mesmo. Sua bela voz conduz muito bem todas essas músicas, e este disco quase soa como uma coletânea, acredito que todas as músicas tem potencial single. Todos os pontos altos da abordagem artística de Lana estão aqui: a produção super densa e atmosférica, a levada vintage e visual destes instrumentais, a mescla bem condensada de beats de hip hop e R&B com muito dinâmica e versatilidade, além da cadência lírica do folk que ela desenvolve com muito cuidado e delicadeza nessa músicas. Gosto muito destas melodias, tem um quê nostálgico que faz parte de toda a proposta dela, uma carga emocional forte em toda a performance, mas sinto também que há uma inocência jovem bem tocante em toda esta melancolia, e particularmente pra mim foi um fator que me ligou bastante a essas músicas. As participações também são um ponto altíssimo, Weeknd, Asap Rocky, Stevie Nicks, todos aparecem muito bem e encontram uma química muito boa com Lana nessas músicas. Enfim, é um disco pop belíssimo.

Ouça: Lana Del Rey – Coachella – Woodstock In My Mind

Menções Honrosas

Japanese Breakfast – Soft Sounds from Another Planet

japanese_breakfast_ssfap_2017Segundo disco do projeto solo de Michelle Zauner, este disco desenvolve um pouco um rock alternativo com uma pegada bem próxima do dream pop, um som bem jovem e contemporâneo. É um disco que não me chamou muito a atenção, mas não sei bem dizer porque, essas músicas formam uma atmosfera bem colorida, as melodias tem uma melancolia e um atrativo pop próprio que vale a pena conferir. Talvez a produção eletrônica seja um pouco polida demais, e as composições mesmo não sejam nada muito além do indie pop rock genérico, mas enfim.

Melhores Discos – Junho 2017

O mês de junho foi longo e um pouco cheio, seja pelos ciclos de frio-calor-vento norte que pareciam durar uma eternidade cada um, ou pela quantidade grande de discos relevantes lançados nos últimos 30 dias – tantos que alguns lançados dia 30 ficaram para a recepção do próximo mês, pois ainda não tive tempo de ouvi-los e digeri-los bem. Felizmente, muitos deles merecem destaque, seja pela qualidade surpreendente, esperada ou simplesmente por ser um grande lançamento de um artista importante. Particularmente, curti bastante os discos deste mês como a um tempo não curtia. Bora ver os discos:

Noga Erez – Off The Radar

O primeiro disco da cantora-compositora israelense foi a primeira boa surpresa do mês, sua estréia apresenta um eletro pop bem vibrante, enérgico e dinâmico. O que logo me nogaarezchamou a atenção foi seu primeiro single para o disco, Dance While You Shoot. Baterias pesadas e coloridas, sintetizadores pulsando e melodias vocais poderosas dão o tom para uma música que tem tudo pra levantar pra cima qualquer festa. Gosto da dinâmica destes arranjos, é um som bem eletrônico e em certa medida experimental, mas ao mesmo tempo aprazível, divertido de ouvir, descontraído. A persona de Noga também merece destaque, ela performa com bastante confiança e naturalidade por todo o disco, sendo que ela mesmo compôs e produziu o trabalho. Posso acrescentar que a produção é quem dá o toque de sofisticação neste trabalho, com um balanceamento bem legal entre os instrumentos pesados e os vocais de Noga. Música pop, eletrônica e pesada no seu melhor estilo.

Ouça: Noga Erez – Dance While You Shoot

Brockhampton – Saturation

Não tenho como enfatizar mais o quanto este projeto e esses caras merecem destaque e reconhecimento, eles são o futuro da música jovem contemporânea. Brockhampton é um brockhamptonsaturationcoletivo de artistas americanos, entre eles rappers, ilustradores e produtores. Este é seu trabalho de estréia, e realmente soa como uma coletânea de melhores hits. O fato de serem um coletivo os diferencia de qualquer grupo ou banda: são artistas individuais antes de tudo, e se juntam neste trabalho conjunto propositalmente. Chama muito a atenção a individualidade de cada um, a diversidade do que cada um tem pra acrescentar, e o trabalho é muito bem feito na medida de deixar tudo bem encaixado e atraente. É hip hop no que há de melhor: versos e mais versos um melhor que o outro, de rappers bem diferentes com estilos bem diferentes. Bons refrões e uma produção calibrada também são fatores que deixam tudo fluir muito bem neste trabalho…há momentos de maior peso, como no baixo e bateria pesados da primeira faixa, e há momentos que os instrumentais trazem um quê de R&B contemporâneo, o que também soa bem. Há rappers mais descontraídos, mais líricos, mais engajados. Sinto que logo estes caras vão estourar, e eles representam muito bem o espírito criativo e pluralista desta geração. Amei.

Ouça: Brockhampton – Heat

SZA – Ctrl

Droga, eu realmente não esperava gostar tanto do primeiro disco dela, um dos melhores do ano. SZA é uma cantora de R&B contemporâneo, flertando com o alternativo e com o SZA-CTRL-album-coverrap em alguns momentos. Não a toa ela assinou com a TDE, a gravadora que representa hoje a casa dos rappers mais criativos e interessantes do hip hop americano atual. Seu primeiro disco, entretanto, é um trabalho exímio de puro R&b. A cadência deste disco é tão smooth e macia que você se sente navegando por estas músicas, que são sobretudo carregadas de emoção. Todas as músicas trabalham com arranjos bem concisos, com harmonias e cadências bem representativas do R&b atual: nada muito alternativo ou eletrônico, mas ainda assim pouco analógico. Gosto destes ritmos, e eles fluem de forma muito bela, de forma que em alguns momentos parece que todo o disco é uma grande música. E o destaque fica para SZA: ela transita por todos estes ritmos com sua bela voz improvisando melodias, cantando de forma muito livre e expressiva. As estruturas das músicas não são muito convencionais, mas mesmo assim te pegam pela força da expressão e da emoção com que são trabalhadas. Seu conteúdo, na verdade, é o real destaque deste disco: ela transita por distintas emoções e perspectivas, relacionadas a insegurança, ao amor, ao futuro. Consegue pintar bem a imagem do que é ser uma mulher negra, artista e com seus vinte e poucos anos de idade. A última faixa, por fim, me tocou bastante neste aspecto: uma reflexão bem tocante sobre este estágio maluco emocionalmente da vida que é seus vinte e poucos anos, e resume bem a riqueza que é este disco. Que discaço.

Ouça: SZA – Love Galore

Lorde – Melodrama

E cá estamos. O segundo disco da artista pop neo-zelandesa é o grande destaque musical do ano pra mim (perdão, KDot), e eu realmente não esperava dizer isso quando comecei lordemelodramaa ouvi-lo. Isto porque pra mim, Lorde era apenas mais uma artista pop com uma pegada indie, nada muito diferente ou novo. Pois eu estava enganado. Não que Lorde reinvente a roda neste disco, mas seu talento e criatividade me chamou muito a atenção, e sobretudo essas músicas me tocaram profundamente. De 2013 – e seu disco de estréia – pra cá, Lorde passou dos seus 17 para os seus 21 anos. Terminou um namoro, descobriu a vida das festas, e cá estamos. Suas 12 músicas transitam por todo o turbilhão de emoções – o melodrama – que lhe abateram nestes últimos 3 anos, deste os versos mais ressentidos sobre o ex-namorado, até as perspectivas mais hedonistas e reflexivas que nos acometem na noite. Ela passa por isso com muita honestidade, sinceridade, e arrisco dizer também profundidade. É um disco jovem na sua própria concepção: o som, tão colorido, dinâmico, fluído. Há pianos, baterias e sintetizadores interagindo de forma muito bem compactada, uma produção bem vibrante e detalhada e seus vocais emotivos transitando muito bem por tudo isso. Melodrama resume bem pra mim o que foi os últimos 3 anos, em tantos sentidos que não caberia descrever aqui. Mesmo politicamente, e a perspectiva desta geração perante ao mundo que nos acomete, é bem representada aqui. É um disco de e para millenials, e eu amei.

Ouça: Lorde – Hard Feelings/Loveless

Big Thief – Capacity

Confesso que este disco aqui mesmo eu não tendo ouvido ele tanto quanto gostaria, e tampouco ter me agradado tanto quanto eu gostaria também. Na verdade, entra mais big-thief-capacitypela divulgação do belo trabalho que esta banda tem feito. A estreia da Big Thief ano passado com seu disco chamado Masterpiece foi um dos destaque do ano pra mim, sua combinação de folk com rock distorcido e temperado pela bela voz de Adrianne Lenker e suas melodias realmente me impactaram no último ano, como uma banda que sabia compor canções emotivas e envolventes, que realmente te imergem nos sentimentos que pretendem passar. Big Thief continua sendo uma banda que sabe compor muito bem, mas sinto que muito do seu potencial incrível demonstrado no seu primeiro álbum não é tão explorado aqui. As músicas são bem mais silenciosas – se aproximando do folk – mas tampouco há uma riqueza ou bela lírica muito grande que sustente esta cadência por muito tempo. Tampouco as harmonias e melodias vocais – outro ponto alto do Masterpiece – aparecem tão bem aqui, sendo muitas bem feitas, mas ainda aquém do potencial que a banda demonstrou, de tal forma que eu diria que muitas dessas músicas poderiam ter sido b-sides do disco anterior, com exceção de algumas. Ainda assim, é um disco que apresenta a banda em boa forma, com canções bem estruturadas e bem produzidas…as músicas continuam soando bem, com uma boa tonalidade aos ouvidos, e pode manter eles na boa fase que tem seguido. É uma banda que merece bastante destaque hoje em dia, pela forma como tem trabalho o rock de forma bem interessante.

Ouça: Big Thief – Capacity

Bedouine – Bedouine

O primeiro disco da cantora-compositora armênia é outro trabalho que ainda precisa ser melhor digerido e apreciado por este que os fala, mas já posso pontuar que é um belo bedouinedisco de estréia. Suas composições seguem estruturas um pouco convencionais do folk rock, mas os arranjos são muito bem trabalhados com acréscimos de cordas, harmonias vocais e sopros, dando uma riqueza sonora considerável a melodias que já eram por si só bem bonitas. Talvez sua voz e liricismo bem cadenciado pudesse ser melhor trabalhado, e a atmosfera dessas músicas conjuntas poderia ter uma unidade mais forte para envolver mais o ouvinte. Mas num todo, são canções que individualmente passam bastante tranquilidade, beleza, diria até liberdade. As cordas e os pianos são bem trabalhados no arranjo, o que por si só pra mim já torna este disco gostoso de ouvir. Uma boa estréia.

Ouça: Bedouine – Solitary Daughter

Mençõs Honrosas

Fleet Foxes – Crack-Up

fleet-foxes-crack-up-coverA banda mais superestimada da música indie, diga-se. O terceiro disco da Fleet Foxes apresenta composições mais ousadas e arranjos mais robustos, mas o vocal de Robin Pecknold abarrotado de reverb e seu liricismo confuso continuam lá, e pra mim é o que acaba comprometendo bastante meu aproveitamento com este disco. Gosto de alguns arranjos aqui, as melodias megalomaníacas das cordas que atravessam algumas músicas são um toque legal, e a temática aquática e sua atmosfera que subscreve essas músicas também é uma ideia boa, com bastante riqueza poética. Algumas músicas tem instrumentais fantásticos, mas a composição em si não me cativou como deveria, pelo menos ainda.

Vince Staples – Big Fish Theory

vincestaplesAhh, como eu queria ter gostado do segundo disco do Vince Staples. Ele é mais um dos bons nomes da nova leva do rap da costa oeste americana, sua estréia dois anos atrás foi (e é) um dos meus discos favoritos desta geração do rap, assim como seu EP do ano passado foi bem divertido. Neste disco, entretanto, Vince se arrisca numa produção bem mais ousada, com baterias bem sintéticas e pesadas, baixos com grooves estrondosos e bastante experimentalismo eletrônico. O que, por si só, é o ponto alto do disco, com levadas e ritmos bem vibrantes e detalhados. Entretanto, pra mim é Vince quem tem que brilhar, e isso eu não vejo aqui. Seus versos são inexpressivos, ele aparece pouco confiante em várias músicas, e Kilo Kish e Kendrick Lamar roubam a cena sempre que aparecem. Tirando algumas músicas, este disco apresenta um Vince Staples que não desenvolveu todo seu potencial como rapper neste som que ele quer explorar agora.

Kevin Morby – City Music

kevin morby city musicUm disco bem divertido, mas sinto que não poderia dar maior destaque pra ele visto as poucas vezes que o ouvi com maior atenção, visto que não me impactou tanto assim. Gosto do senso de humor de Kevin, suas letras são bem sinceras e pessoais, mas ao mesmo tempo trabalhadas de forma leve, com arranjos simples e bem estruturados. De fato, ainda que as composições envolvam harmonias bem simples, os arranjos são muito bem trabalhados, os acréscimos de teclados, melodias de guitarra e as próprias melodias vocais de Kevin dão uma dinâmica bem legal pra essas músicas, tornando a experiência de ouvir este disco algo descontraído, leve e interessante ao mesmo tempo. Um bom disco.

 

Melhores Discos – Maio 2017

O mês de maio é quando de vez frio, os trabalhos do semestre, o campeonato brasileiro da série B. E consequentemente é aquele mês em que começa toda aquela atmosfera melancólica e delicada do inverno, que eu gosto mesmo reconhecendo seu forte teor depressivo nos dias. Sendo assim, normalmente as músicas que ouvimos neste (e nos próximos 2) meses são aquelas que marcam o inverno, que tem o gosto e a energia da delicadeza própria destes dias, e particularmente pra mim, não foi um mês proveitoso em termos de lançamento. Saiu bastante coisa, e muitos trabalhos bem reconhecidos, mas curti realmente apenas alguns, a maioria passou por mim sem causar grandes impressões e foi até bem desanimador neste sentido, na medida que mesmo aqueles discos que eu sentia que deveria gostar não estavam trazendo nada pra mim. Bom, dito isso, teve alguns poucos discos que me chamaram a atenção e que valem a pena compartilhar. Vamos a eles:

Perfume Genius – No Shape

Perfume Genius é o belo nome artístico de Mike Hadres, cantor-compositor americano de chamber pop/art pop e este é seu quarto disco de estúdio, sendo que os outros foram perfumegeniusbem recebidos por público e crítica e ele tem se destacado como um dos nomes mais talentosos e criativos da música pop atual, sempre trazendo elementos de outros gêneros e uma produção bem colorida e vibrante na sua música. Este é o primeiro disco dele que ouvi com mais atenção, e cumpriu bem todas as expectativas que eu tinha a respeito. É um disco bem gostoso de ouvir, flui muito bem e tem muita riqueza sonora, seja pelos detalhes ou pela energia mesmo. Mike esbanja carisma, desenvoltura e sua performance chama a atenção, tem toda uma teatralidade nestas músicas e seus vocais são bem expressivos, fazendo as melodias fluírem com muita naturalidade. Os arranjos também são bem construídos, com ritmos eletrônicos e sintetizadores balanceando bem com o contra-baixo, guitarras, violoncelos/violinos e pianos bem melódicos, construindo músicas pop no mais alto estágio do termo, com doçura, sensibilidade e precisão na medida certa. A atmosfera quente que essa produção estabelece é o espaço perfeito pra este som se desenrolar, sem ser muito limpo ou quadrado e sim com muita cor e vibração. É fácil de se envolver ouvindo tudo isso, é um disco que desafia mesmo quem não gosta de pop. Um dos melhores discos do ano até agora.

Ouça: Perfume Genius – Slip Away

Juana Molina – Halo

Se Perfume Genius preza por um som bombástico e colorido, a cantora-compositora (e atriz) argentina traz um disco bem silencioso e atmosférico, explorando bastante a juanamolinaespacialidade de forma bem criativa. Este é seu sétimo disco de estúdio, e também foi minha primeira experiência ouvindo seu trabalho. É um disco experimental, partindo da música eletrônica e flertando bastante com o trip hop, o folk, e o experimentalismo “avant-guarde” eletrônico mesmo. Essas músicas logo me chamaram a atenção, não só pela beleza e sensibilidade de arranjo, mas pela excentricidade da composição mesmo. Não são melodias e harmonias muito elaboradas e complexas, do contrário, há quase um minimalismo na construção dessas músicas. Por outro lado, os arranjos acrescentam tantos detalhes e a produção trabalha tão bem com eles em prol da atmosfera geral do disco que não há como não dizer que há muita riqueza sonora nestas músicas. As percussões eletrônicas são precisas e enérgicas em alguns momentos, enquanto as melodias dos sintetizadores e das cordas vão crescendo aos poucos, tudo com bastante suspense e construindo um espaço que realmente afunda o ouvinte nele, num mundo sonoro próprio. É um disco pra se ouvir com atenção e com calma, e o resultado é recompensador. Há muita criatividade e personalidade neste trabalho, e com isso bastante coisa do que curtir e se aproveitar.

Ouça: Juana Molina – Paraguaya

Slowdive – Slowdive

Histórica banda britânica de shoegaze/rock alternativo volta 20 anos depois de sua era com um disco homônimo, e como todo comeback album de uma banda que marcou slowdiveépoca, há muita expectativa e as chances de dar merda são grandes. Particularmente, eu não tinha expectativas por este disco pois nunca entendi muito bem o shoegaze, para ser sincero. Por mais que reconheça que é um gênero que traz muita coisa que gosto no rock: seja melodias bem emocionais, a energia nostálgica e a experimentação com guitarras e estruturas do rock alternativo, sempre tive dificuldade com suas produção abarrotadas de efeitos pra tudo quanto é lado, e o balanço sempre duvidoso entre peso e delicadeza também sempre me deixou mais confuso do que impressionado positivamente. Dito isso, dei chances a este disco e estou apreciando bastante, acho que é um bom trabalho e fãs do gênero tem tudo pra amar. O trabalho é bem nostálgico, na verdade. Tem um pouco de uma estética nostálgica, até mesmo na produção, que te leva de volta pra ser jovem no início dos anos 90. Assim, não é um disco que traz nada de muito novo, tampouco tenta dialogar com o que há de shoegaze hoje em dia, é um shoegaze clássico de uma banda clássica, e nisso entrega muito bem. São 10 músicas de uma atmosfera bem viva, carregada de emoção, com uma produção bem ambiental que constrói um som rico em imagem e movimento, bem envolvente e realmente leva numa viagem…em alguns momentos, essas músicas soam como uma lembrança. Este aspecto introspectivo, colorido e sensível do shoegaze é apresentado muito bem aqui, e é muito mérito da produção do trabalho e da criatividade destes músicos ao trabalharem estas músicas, pois as harmonias e melodias nem são tão complexas assim. Gostei bastante e acho que quem tá acostumado com este som vai encontrar aqui um dos seus discos do ano.

Ouça: Slowdive – Star Roving

Menções Honrosas

Forest Swords – Compassion

forestswordsUm disco muito bom, e eu não sei bem porque não me agradou tanto quanto supostamente deveria. Música eletrônica rica em psicodelia, detalhamento, energia. Padrões com muito suspense, uma atmosfera pesada e instrumentais bem orgânicos constroem essas músicas de forma bem sólida, nada artifical. Infelizmente, é um disco que me fez sentir nada, e por isso cabe no máximo uma menção honrosa. As músicas são seguem estruturas parecidas e são um pouco esquecíveis também, mas há qualidade.

Do Make Say Think – Stubborn Persistent Illusions

do-make-say-think-stubborn-persistent-illusions-album-2017Outro disco bom, bem recebído, mas que não tá me trazendo muita coisa. Pós-Rock típico mas bem executado: instrumentais que conseguem pintar uma imagem bem viva, rítmos quebrados e arpejos bem delicados por toda a parte, além de uma mixagem confusa e experimental te trazem um disco padrão de pós-rock, mas o padrão do bom disco, tudo bem executado e com bastante vivacidade. Dito isso, as músicas são bem extensas, as estruturas confusas e é algo que particularmente não me atrai muito. Mas vejo qualidade e vale a recomendação, pois é uma música instrumental que entrega muita coisa.

Jumo – Derivé

jumoEste é um disco muito bom que eu realmente gostei, mas ta aqui por ser um EP curtinho e ser um disco com baixo valor de replay pra mim. São apenas 6 músicas de uma dance music bem envolvente, um som limpo e melódico que flui com muita naturalidade e expressão. Tem um considerável cuidado na produção dessas músicas, e eu sinto que todas elas cairiam perfeitamente em qualquer pista do mundo por aí, belo disco.

Melhores Discos – Abril 2017

Abril foi um mês de grandes discos. Artistas importantes, famosos, dos mais talentosos de nossa geração lançaram trabalhos inéditos cumprindo as devidas expectativas, e até por isso fiquei mais imerso em alguns projetos específicos que apresentaram muito conteúdo de qualidade pra se aproveitar do que procurei ouvir tudo que saiu pela frente como vinha fazendo nos últimos meses. Alguns desses discos ainda pretendo fazer uma resenha completa, mas o tempo e as atividades acumuladas estão adiando um pouco. Apesar disso, deu pra aproveitar alguns discos, seguem os destaques:

Father John Misty – Pure Comedy

Josh Tillman é um cantor-campositor americano de Chamber Folk (termo mais abrangente possível para seu Folk-Rock-Pop-Indie) e este é seu 3º disco sob a alcunha de purecomedyFather John, codinome que ele adotou depois de sair da Fleet Foxes e investir na sua carreira solo. De fato, ele já tinha discos anteriores como Josh Tillman, mas o personagem que toda a figura de F.John envolveu toda uma distinta empreitada em conteúdo lírico e musical que realmente decolou sua carreira. Seu trabalho anterior, I Love You, Honeybear (2015) é pra mim um dos melhores discos desta década até agora, um disco de um folk refinadíssimo, com arranjos belíssimos e letras dedicadas a sua mulher carregadas de humor, inteligencia e profundidade, um disco pessoal, passional e absolutamente poético, uma obra-prima. Dito isso, o sucessor vinha carregado de expectativas, mas Josh seguiu outro conceito desta vez, saiu da temática amorosa e investiu num conteúdo mais político e social, e o resultado é surpreendente.

Eu realmente tenho dificuldades de falar desse disco, de tanto conteúdo e densidade das músicas. Pra começar, a sonoridade: quase todas as músicas são marcadas por melodias vocais bem sensíveis, pianos e percussão bem sutis, raros momentos de explosão – e quando ocorre, o efeito é realmente explosivo: sopros, violinos/violoncelos e guitarras aparecem muito bem – o que dá uma atmosfera bem silenciosa para o álbum, uma energia mais introspectiva, que faz total sentido com o conteúdo lírico das músicas, que é de longe o ponto principal deste trabalho. Sobre isso, o próprio título já indica: pura comédia é a condição humana, e essa temática é explorada de variadas formas neste disco. Josh fala sobre os rumos da humanidade, seja no seu âmbito macro (crise ambiental, avanço da tecnologia), mas especialmente no micro: no que tange nossa subjetividade, nossa experiência com o real, com os outros seres humanos e com nós mesmos. Nisso, essas músicas oferecem insights brilhantes, como quando o ser humano conversa com um pássaro e conta pra ele sobre o quanto ele ainda invejará nossa engenhosidade e liberdade (Birdie), ou como quando o ser humano conversa com deus e o desafia por ter “criado algo tão ambicioso quando estava entediado”. Preciso citar ainda Leaving LA, um épico de 13min em que Josh reflete sob sua mascara, seu eu, o que é ser um indivíduo público..é uma das faixas mais brilhantes do disco. Eu poderia falar sobre cada uma dessas músicas, então vou ser mais objetivo: esse disco é carregado de poesia, humor, sarcasmo, mas especialmente de reflexão e um olhar muito único sobre nossa experiência na Terra, que ao mesmo tempo que lamenta a tragédia que é ser humano, contempla o que nos resta de valioso a aproveitar de cada um. É um belíssimo disco, e se a arte pode ser “política”, pra mim este trabalho encorpora tudo que eu procuro num artista que fala sobre esses temas.

Ouça: Father John Misty – The Memo

Kendrick Lamar – DAMN.

Ok, vamos falar dos dois discos que mais me encantaram neste mês primeiro. Kendrick Lamar é um rapper americano que está literalmente chacoalhando o mundo do hip hop damn.nos últimos 5 anos, com um trabalho mais impressionante que o outro, deixando todos atordoados em discussões sobre ser “o maior rapper de todos os tempos”, o significado de suas músicas, suas mensagens e afins. DAMN. é o terceiro disco de estúdio dele, e tinha a inglória missão de suceder To Pimp a Butterfly, talvez o disco mais emblemático deste século até agora (sem nenhum exagero). E não é que o desgraçado conseguiu de novo?

DAMN. começa com uma breve parábola, com aquela energia épica de expectativa de quando algo grande está prestes a acontecer: Kendrick se descreve andando numa rua, quando encontra uma mulher cega perdida. Ele chega pra ajudá-la, ela vira…e o atira. O coro perguntando “é maldade? ou é fraqueza?” termina a introdução do disco já indicando que mais um trabalho denso, cheio de mensagens subliminares e tiradas incríveis estava por vir. Porém, Damn surpreende justamente por ser o disco de Kendrick mais fácil de se ouvir: DNA abre com um trap pesado, versos encaixados e uma energia absurda, e o disco segue com uma sonoridade que flerta com uma abordagem mais próxima do som que domina o rap hoje, como se Kendrick estivesse tentando chegar as grandes massas. Ainda assim, a produção deste disco é incrível, de tão detalhada. Há faixas mais próximas do pop, há bangers dignas do hip hop mais tradicional, e há arranjos com elementos do Jazz e do R&B, o que sempre identifica Kendrick. Ele trabalha sua voz de forma bem criativa em várias dessas músicas, e as participações de Rihanna rimando e Bono Vox cantando (um dos refrões mais lindos que já escutei num rap) são pontuais nestas faixas. É seu trabalho mais completo neste sentido, mais atraente musicalmente, e mais fácil de perder as mensagens por trás.

Então voltemos a parábola. Não vou entrar em detalhes sobre seu significado e afins, pra mim é importante pontuar a narrativa religiosa por trás destas músicas, e como Kendrick trabalha essa narrativa em cada música…é incrível como ele não desperdiça um verso. As referências bíblicas estão por toda a parte, e num todo essas músicas apresentam um Kendrick altamente consternado, vivendo entre conflitos e tentações, como um “pecaminoso” vivendo numa terra pecaminosa que subverteu os mandamentos de deus. É a partir desta perspectiva religiosa que Kendrick explora seus sentimentos e perspectivas de estar no topo do rap game, seu orgulho, seu medo, sua luxúria. Dá pra sentir a culpa e a dúvida em algumas dessas músicas, enquanto em outras ele se solta e tenta se afirmar. Kendrick é genial em explorar esses sentimentos de acordo com a sonoridade das músicas, brincando com os versos, as palavras, os sons. É um artista genial na arte de contar uma história e de deixar a sua mensagem. Enfim, poderia fazer um texto completo sobre este disco, basta dizer que é mais um trabalho brilhante do artista mais brilhante da nossa geração, o disco do ano certamente.

Ouça: Kendrick Lamar – DNA

Joey Bada$$ – All-Amerikkkan Badass

Joey é um rapper nova-yorkino que apareceu por meados de 2012 com uma mixtape que trazia um rap que reavivava o bom e velho som de nova york ao mesmo tempo que joeybadasssoava jovem, novo. O boom-bap cadenciado e pesado, com rimas bem articuladas são uma marca de Nova York que muita gente sente falta num hip hop dominado pelo trap sulista como o de hoje em dia, então Joey logo chamou muita atenção. Um disco de estúdio depois e ele chega com este trabalho, em que ele vai além desta sonoridade tradicional e foca em temáticas sociais e políticas nas suas rimas.

Apesar de todo este conceito por trás, este disco é leve…flui com uma energia muito boa, arranjos bem sofisticados, há claramente uma tentativa de entregar um som mais acessível. Joey também não é nenhum crítico social de alto calibre, ele aborda as questões raciais na América a partir de uma perspectiva bem pessoal, na maior parte do tempo tentando passar uma mensagem positiva, motivadora, ainda que crítica sobre distintos problemas que a comunidade negra enfrenta nos EUA. Tem uns versos muito bons neste caminho, ele apresenta uma versatilidade de flow bem interessante, além de melodias vocais e a tradicional agressividade do boom-bap em algumas músicas, mostrando um repertório que poucos rappers podem chamar pra si hoje em dia. Gosto muito do R&b vibrante que constitui a maioria dessas músicas, tem muito do Jazz também nos arranjos, com trompetes e percussões de muita sutileza e beleza. Há muita qualidade de som, rima e conteúdo. Ainda que Joey não tenha tanto assim pra dizer sobre as questões que ele aborda aqui, é um disco bonito e gostoso de ouvir, que pode passar mensagens fortes e importantes pra muita gente também.

Ouça: Joey Badass – Land of the Free

Somi – Petite Afrique

Somi é uma cantora-compositora de Uganda vivendo em Nova York, e este é seu 6º disco, segundo em uma grande gravadora. É o primeiro disco dela que escuto e não pude somipetitedeixar de me perguntar como ela não é mais conhecida, pois é um Jazz com muita sofisticação de arranjo, versatilidade, profundidade. Sua voz limpa e potente derrama belas melodias por todo este disco, com uma sonoridade muito pujante por trás. Trompetes e violinos/violoncelos aparecem em momentos cruciais dando um toque muito bom nessas músicas, e o trabalho rítmico marca a maioria das músicas com muito groove, seja pelas linhas de baixo ou as percussões, colocando em movimento uma energia bem livre e envolvente. A produção é realmente incrível, captura muito bem a sinergia dos músicos, o entrosamento dos sons e o timbre super limpo destes instrumentos, produzindo uma atmosfera bem viva, como se você estivesse ouvindo essa banda tocar em algum club fechado e bem decorado. As temáticas das músicas também vale a pena destacar, com Somi narrando sua vida em Nova York, suas perspectivas, experiências e dilemas de vida como uma africana vivendo nos EUA. É um dos discos de Jazz mais interessantes que ouvi nos últimos anos, visto que dialoga muito bem com o neo-soul e com ritmos africanos com uma produção que realmente consegue aproveitar o máximo dessa sonoridade, além da voz e melodias belíssimas que encontramos aqui, claro.

Ouça: Somi – Alien

Feist – Pleasure

Leslie Feist é uma cantora canadense e este é seu 6º disco de estúdio, 6 anos após o seu último lançamento. Feist sempre fez um som que poderia ser descrito como “indie pop”, feistpleasureaquele pop com uma pegada no folk, no rock alternativo, na música eletrônica. Apesar de seus maiores sucessos serem mais próximos de um pop mais convencional, este trabalho foge bastante desta fórmula, é um disco bem sólido e maduro. Pra começar, eu gosto muito da produção deste disco, consegue estabelecer muito bem uma atmosfera silenciosa, introspectiva, aconchegante. A qualidade do som é tão viva que você tem a impressão de estar ouvindo ela cantar na sua frente, e isso é fundamental pro próprio conteúdo dessas músicas. A maioria trata de assuntos mais pessoais, românticos, gosto dos versos e das melodias vocais, e os arranjos são muito bem construídos pra dar corpo a essas canções. Além de uma levada violão-voz, tem toques de guitarra, violinos, backing vacals, ou sons sintetizados pra dar um toque bem subliminar no arranjo. A bela capa já diz um pouco da delicadeza e sensibilidade emocional que essas músicas esbanjam, de forma bem crua. É um disco bem coeso, ainda que nada se destaque muito.

Ouça: Feist – Pleasure

Estes foram os destaques deste mês…os discos do Kendrick e do Father John Misty ainda pretendo fazer uma resenha completa, porque são discos complexos demais e com muito conteúdo. Enfim, por este mês foi isso.